Apuama

Preservação

A maioria das espécies de bambu apresenta baixa durabilidade natural ao ataque de organismos xilófagos. Devido à presença do amido nas células parenquimáticas o bambu é alvo do ataque do caruncho (Dinoderus minutus). Além disso, quando exposto às intempéries e quando em permanente contato com a umidade dos solo, o bambu torna-se alvo do ataque de fungos. Desse modo, independentemente da espécie de bambu utilizada, o primeiro cuidado a ser tomado chama-se “proteção por projeto”. Ou seja, deve-se conceber a utilização do bambu em um ambiente em que ele se encontre naturalmente protegido do ataque de organismos xilófagos, evitando-se, ao menos, sua exposição às intempéries. De uma forma bem simples trata-se de afirmar que toda boa construção com bambu (e também com a madeira) necessita “de um bom chapéu e de uma boa bota”.

No meio rural, acredita-se que a fase da Lua, por ocasião da colheita, influi na durabilidade natural dos colmos, principalmente quanto à resistência ao ataque do caruncho. De acordo com essa crença, a época da fase da Lua minguante é a mais indicada para se efetuar a colheita dos colmos de bambu. Porém, com relação ao ataque do caruncho, trabalhos de pesquisa desenvolvidos por Simão (1957) e Kirkpatrick & Simonds (1958) concluíram que a escolha das fases da Lua não evita o ataque do caruncho.

Além disso, seria altamente improvável que, durante a fase da Lua minguante, o amido presente nas células parenquimáticas fosse deslocado para os rizomas (?), deles retornando ao local de origem logo após a mudança da fase da Lua! Por outro lado, sabe-se que a Lua exerce influência gravitacional sobre a Terra o que poderia explicar a presença de um menor teor de seiva nas plantas nessa fase específica, diminuindo, dessa forma, o risco de ataque dos colmos por alguns tipos de organismos xilófagos. Além disso, em alguns países andinos se recomenda que o corte dos colmos seja feito “nas horas mais escuras da madrugada”, pois na ausência de luz a fotossíntese é interrompida, favorecendo o bambu em termos de durabilidade. Embora tenha um respaldo científico, essa proposta porém não apresenta nenhum fundamento lógico, tendo em vista a dificuldade que se encontra em coletar colmos de grandes dimensões (e com grossos espinhos) principalmente em áreas de difícil acesso, como seria o caso da Cordilheira dos Andes.

Embora não seja um procedimento usual quando se pensa na utilização do bambu em larga escala, o mais lógico seria cortar cuidadosamente os colmos poucas semanas após o início das brotações anuais. Nesse caso, os colmos adultos estariam com baixo teor de amido o qual foi destinado, basicamente, à nutrição dos colmos jovens. No entanto, é grande o risco de que, ao cortar os colmos adultos, também sejam danificados os brotos.

Por seu potencial econômico, vários procedimentos devem ser adotados visando prolongar a vida útil do bambu, dividindo-se os distintos tratamentos em naturais e químicos.

Idade para o corte

Esse é o procedimento mais simples de ser efetuado. Os colmos maduros geralmente são mais resistentes aos ataques de fungos e de insetos, além de apresentarem melhor desempenho mecânico, até certa idade, quando então começam a degradar-se naturalmente. O maior problema refere-se ao desconhecimento da idade dos colmos, visto que raramente se efetua um tipo de marcação anual nos colmos, a exemplo do que é efetuado na China.

A maturação dos colmos, ou a idade mais adequada por ocasião de se efetuar a sua colheita, é um importante fator biológico que deve ser levado em consideração, principalmente quando da utilização do bambu como um material estrutural para colunas, vigas, tesouras, pontaletes e andaimes. Devem ser utilizados apenas colmos maduros e que estejam completamente lignificados. A idade mais adequada para efetuar a colheita dos colmos depende de seu ciclo vegetativo, o qual pode ser curto (em torno de 7 anos) ou longo (em torno de 14 anos). Para as espécies de ciclo curto, tais como, o bambu comum (Bambusa vulgaris), o bambu fino (Bambusa tuldoides) e o bambu imperial (B. vulgaris var. vittata), os colmos devem ser colhidos quando apresentarem idade superior a 3 anos. Para as espécies de ciclo longo, tais como, o bambu gigante (Dendrocalamus giganteus) e guadua (Guadua angustifolia), a idade mais indicada para o corte seria em torno de 6 anos.

Cura na mata

Os colmos de bambu devem ser cortados e deixados a secar na própria touceira, geralmente apoiando-se a base inferior do colmo em uma pedra ou em outros colmos da mesma touceira. Quando as folhas secarem e caírem, após cerca de 20 dias, o colmo poderá ser utilizado. Nessa técnica, denominada de “avinagrado” na Colômbia, ocorre a degradação (fermentação) do amido e da seiva presentes no colmo, reconhecida pelo odor azedo, geralmente aumentando a durabilidade do colmo, que se torna impalatável aos insetos. Porém, os resultados desse tipo de tratamento não são tão eficientes quando os colmos ficarem posteriormente em contato com o solo. Além disso, em uma área pública, o maior risco é o de, quando os colmos estiverem secos, sejam retirados por terceiros.

Tratamento por imersão

Os colmos podem ser imersos em água (parada ou corrente). Em alguns casos os colmos devem ser recém cortados; em outros, pode-se utilizar colmos secos ao ar.

Logo após a colheita, os colmos de bambu devem ser submersos em água corrente (riachos) ou estagnada (lagoa, piscina etc.), visando-se reduzir ou eliminar o teor de amido existente nos colmos, por meio da fermentação biológica anaeróbica (ausência de ar). A duração do tratamento pode variar de 4 a 7 semanas. Com a redução ou a eliminação do amido, provocado pela fermentação, procura-se minimizar ou evitar o ataque do caruncho. Os colmos de bambu são relativamente leves e tendem a flutuar quando são colocados na água. Desse modo, os colmos devem ser amarrados em feixes, nos quais se prende um peso para forçar sua submersão. De acordo com Sulthoni (1981), a imersão do bambu em água estagnada é um tratamento mais eficiente do que deixá-lo em água corrente. A explicação para tal fato é que a degradação enzimática do amido é mais intensa do que sua extração, realizada pela ação da água corrente. Cabe ressaltar, no entanto, que alguns cuidados devem ser tomados nesse processo. Um longo tempo de permanência em água estagnada tende a provocar manchas nos colmos, além de ocorrer o risco do desenvolvimento de larvas de insetos, sobretudo pernilongos. O odor resultante da degradação biológica é também desagradável, devendo os colmos, ao final do processo, serem limpos em água corrente.

Observação 1: Quando o tratamento é feito por aspersão, o método apresenta pouca eficiência (ou mesmo nenhuma), já que a absorção do produto é feita apenas pelas extremidades do colmo ou por eventuais rachaduras existentes nas paredes do colmo. Conforme relatado, a casca do bambu é impermeável, motivo pelo qual a solução química tenderá apenas a escorrer, sem penetrar na parede do colmo.

Observação 2: Outra alternativa adotada frequentemente pelos bambuzeiros para prevenir ou combater o ataque do caruncho consiste na perfuração dos internódios, com a posterior injeção neles de uma solução química. No entanto, com exceção da região do diafragma, as paredes internas do colmo também são impermeáveis, sendo tal tipo de tratamento de limitada eficiência.

Tratamento pelo fogo

Consiste em submeter os colmos recém cortados ao aquecimento em fogo direto, visando eliminar a seiva por exsudação. Com o aquecimento procura-se alterar (degradar) quimicamente o amido tornando-o menos atraente ao caruncho. Esse tratamento é muito utilizado para colmos de bambu pertencentes ao gênero Phyllostachys, tais como, o P. aurea (cana-da-Índia) e o P. edulis (mosô). Durante o tratamento ao fogo ocorre o derretimento de um tipo de cera natural presente na casca do bambu, e a fricção constante dos colmos por um tecido seco, ou impregnado com óleo diesel, provoca o surgimento de uma coloração parda brilhante, realçada quando o aquecimento é mais intenso na região dos nós, característica extremamente desejável em móveis, bengalas e varas-de-pescar. No entanto, espécies de bambu do tipo entouceirante, tais como, o bambu gigante e o bambu imperial, não adquirem tal coloração e nem tal brilho característico obtido nos bambus alastrantes. Para o bambu guadua, pode-se obter uma qualidade de superfície intermediária entre os dois grupos, impregnando-se posteriormente os colmos com cera artificial incolor.

Tratamento pelo fumaça

Os colmos, logo após o corte, são submetidos à ação direta da fumaça, a qual os torna enegrecidos. Trata-se de um processo semelhante ao da defumação de alimentos. Devido à ação combinada do calor e da fumaça, provavelmente se formem produtos tóxicos na superfície externa dos colmos, além da degradação sofrida pelo amido pela ação do calor, culminando por tornar os colmos menos atraentes ao caruncho. No Japão, o tratamento com fumaça é realizado durante 20 minutos, com temperatura variando de 120 a 150 °C, conforme descreveu Liese (1980). O principal inconveniente observado nesse tipo de tratamento é a grande ocorrência de rachaduras nos colmos, devido à expansão do ar neles contido, quando se tenta acelerar o processo.

Uma variante desse método pode ser aplicada quando da produção de carvão vegetal de madeira ou de bambu. O diafragma do colmo é perfurado com uma barra metálica e utiliza-se o colmo como se fosse uma chaminé – a passagem da fumaça através do colmo propicia o depósito de substâncias tóxicas (ácido pirolenhoso) nas camadas internas e mais vulneráveis do colmo. O processo pode ser bem rápido, possibilitando a troca dos colmos, os quais, após o tratamento, devem ainda passar por uma etapa de armazenamento até que sequem ao ar.

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