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Prós e Contras

Prós & Contras

Prós

Pró: Perenidade

Embora os colmos tenham uma vida útil variando entre 4 e 15 anos, a touceira (moita) é perene, ou seja, uma vez implantada, irá emitir brotações anuais. No Instituto Agronômico de Campinas (Fazenda Santa Elisa) ainda existem as fileiras de bambu comum (Bambusa tuldoides) plantadas há mais de um século. Segundo a tradição, o Barão Geraldo desejava construir um caminho sombreado para efetuar seus passeios familiares até a cidade de Campinas – SP.

Pró: Rusticidade

O bambu é tolerante a solos com baixa fertilidade, propagando-se em regiões inóspitas onde outros vegetais jamais conseguiriam sobreviver. Além disso, quando se efetuam os tratos culturais adequados a produtividade do bambu aumenta significativamente, embora tal prática ainda não venha sendo utilizada no Brasil.

Pró: Resistência ao fogo

O “segredo” da força do bambu está em sua parte subterrânea, constituída por raízes e rizomas. Dessa forma, mesmo a ação violenta de um incêndio pouco ou quase nada causam à touceira. Em agosto de 2014 ocorreu um grande incêndio em propriedades rurais em Boa Esperança do Sul – SP. Passados apenas 6 meses, brotos de D. asper já alcançavam mais de 6 m de altura!

Pró: Precocidade

Dependendo da espécie de bambu os colmos podem ser cortados após 2 a 4 anos, constituindo-se na matéria-prima natural mais rapidamente produzida. Conforme a aplicação desejada, por exemplo para uso em cestarias, esse intervalo de tempo pode ainda ser reduzido para menos de 2 anos. No entanto, para aplicações estruturais devem ser escolhidos colmos que estejam maduros, com idade superior a 5 anos para a maioria das espécies.

Pró: Diversidade

O bambu apresenta-se sob as mais variadas formas. Algumas espécies são denominadas anãs, com pequeno diâmetro e porte inferior a 1 m; outras, no entanto, são gigantes – diâmetro superior a 20 cm e altura de até 30 m. O mais interessante é que todo esse grande desenvolvimento se processa em um intervalo de tempo muito rápido – de até 6 meses. Quando aparecerem as folhas, cessa o crescimento do colmo e inicia-se o processo de sua maturação.

Pró: Leveza

O bambu apresenta uma das estruturas mais perfeitas da natureza, pois combina flexibilidade com leveza. Os colmos, geralmente ocos, são divididos transversalmente por septos (diafragmas), que aumentam a resistência mecânica do bambu. Essa engenhosa obra da natureza confere ao bambu cerca de 1/3 da densidade do concreto, por exemplo.

Pró: Aproveitamento total e versatilidade

Praticamente nada se perde do bambu. Além dos colmos, que possibilitam múltiplas aplicações, as folhas e os ramos também podem ser utilizados na fabricação de vassouras ou na alimentação de animais (não são apenas o urso Panda ou gorilas em Uganda que se alimentam do bambu). Também os resíduos do processamento industrial do bambu podem ser aproveitados para a fabricação de compósitos com aglomerantes orgânicos ou inorgânicos, ou para a geração de energia. Experimentos recentes na Faculdade de Engenharia de Alimentos da UNICAMP estão direcionados para o aproveitamento da farinha de bambu.

Milhares de usos já foram catalogados para o bambu. Na Ásia diz-se que o bambu acompanha o homem “do berço ao túmulo”, tamanha é a sua importância para os povos asiáticos. Para eles o bambu é considerado como sendo uma dádiva dos deuses. Esse é o título de um importante livro, escrito por Oscar Hidalgo-López – pioneiro no estudo sistemático do bambu na América: “Bamboo the Gift of the Gods“.

Pró: Proteção do solo e sequestrador de carbono

O bambu troca frequentemente suas folhas, que ao caírem ao solo o protegem contra o impacto das gotas da chuva, formando, além disso, uma espessa camada que favorece a infiltração de água e minimiza a sua perda por evaporação. Além disso, o bambuzal tem um importante papel na proteção de nascentes, lagos e rios. No entanto, em rios do Pantanal, observa-se uma séria degradação das suas margens,devido às ondas causadas pela passagem frequente de barcos de pesca, mesmo existindo nessa região a ocorrência natural de bambu do gênero Guadua (Taquaruçu), que realiza um tipo de travamento das margens do rio.

Pode-se considerar que 50% da massa do bambu seja constituído por carbono, armazenado nos rizomas, no colmo, ramos e folhas. Como o bambu brota anualmente, necessita de grande quantidade de carbono para que ocorra o desenvolvimento de seus tecidos. No entanto, conforme destacado pelo Dr Walter Liese (Hamburg University), esse sequestro de carbono somente será efetivo “se o bambu for utilizado na produção de materiais perenes”. Dentre eles, podem ser citados: papéis não descartáveis, móveis, artesanatos, chapas, laminados colados e vários compósitos nos quais as partículas de bambu sejam imobilizadas no seio da matriz (cimento, gesso e adesivos em geral). Quando materiais à base de bambu se degradam, libera-se o carbono que fora anteriormente sequestrado pelo bambu. Nesses casos, o bambu pode ser considerado como se fosse neutro, pois liberaria o carbono que ele mesmo havia sequestrado ao longo de sua vida.

Abrigo da vida animal

Embora o bambu raramente produza flores e frutos, mesmo assim ele serve de importante atração para  a vida animal, que busca no bambuzal o abrigo contra os predadores, além de os animais aproveitarem-se de um local permanentemente sombreado.

Desvantagens

Falta de normatização

Ao contrário do que existe para outros materiais de construção o bambu ainda não apresentava especificação técnica para uso na construção. Desse modo, os resultados apresentados pelos diferentes autores nem sempre podiam ser comparáveis entre si, o que dificultava a tarefa dos projetistas e dos construtores.  Porém, recentemente o INBAR – International Network of Bamboo and Rattan publicou normas ISO para ensaios de caraterização do bambu. Além disso, atualmente se elabora no Brasil uma norma específica para o uso estrutural do bambu, conforme informado em recente evento realizado em Goiânia. A iniciativa capitaneada pelo Prof. Normando Perazzo Barbosa, da UFPB, busca sensibilizar a ABNT para que aprove normas específicas para a realização de ensaios de caracterização do bambu e para a sua utilização estrutural.

Agressividade

A escolha do local para o plantio de bambus do tipo alastrante devem ser muito cuidadosa, pois se tratam de bambus de crescimento individualizado. O grupo se estende em várias direções e efetuar o controle de sua expansão não é uma tarefa tão simples para não dizer quase impossível. Não basta cortar totalmente a parte aérea, pois, em realidade, a força do grupo se encontra na parte subterrânea – a extensa rede constituída pelas raízes e rizomas. Como o sistema radicular do bambu é muito raso (raramente ultrapassa mais de 1 m), podem ser cavadas trincheiras visando isolar o grupo para que não invada outras áreas. Na Europa e EUA também se utiliza um tipo de tela plástica buscando o mesmo efeito. Porém, caso haja uma mínima fissura, isso já seria suficiente para o rizoma se espalhar de forma descontrolada. Em algumas cidades americanas tem sido proibidos plantios de tais tipos de bambus.

Heterogeneidade

Por ser um material natural o bambu apresenta grande variabilidade nos resultados dos ensaios de caracterização físico-mecânica. Numa mesma touceira ocorrem colmos com idades muito variadas e, em decorrência, que apresentam comportamento muito diferente durante um ensaio. Além de fatores intrínsecos ao bambu (espécie, idade, posição da amostra no colmo) também outros fatores ligados ao clima, solo e época do ano também interferem de forma importante no comportamento físico-mecânico do bambu.

Vulnerabilidade

A maior parte das espécies de bambu apresenta baixa resistência natural ao ataque do caruncho (Dinoderus minutus). A presença de amido nas células parenquimáticas do colmo é que provoca o ataque desse inseto, especializado na sua degradação. Também tem sido relatado o ataque de um outro tipo de inseto (um cerambicídeo  denominado de tigre asiático), cujos efeitos são ainda mais devastadores desintegrando totalmente a estrutura do colmo. Além disso, o tratamento eficiente dos colmos ainda não alcançou o mesmo nível industrial daquele observado para a madeira.

Instabilidade dimensional

O bambu é um material higroscópico e, em presença de variações de umidade, incha, contrai, fendilha e racha. Esse fato, além de causar instabilidade nas construções, abre caminho para o ataque do caruncho e de fungos, que não atacam diretamente a casca do bambu. Por não dispor de raios, o bambu racha com maior facilidade do que a madeira. Porém, para produzir palitos, essa se mostra uma grande vantagem.

Ligações ineficientes

Um dos maiores desafios no estudo do bambu refere-se à obtenção de ligações que sejam eficientes e práticas. Por não apresentar raios, o bambu fendilha facilmente, provocando  a instabilidade da estrutura. Dessa forma, tem sido buscadas alternativas para tornar mais efetiva a ligação de peças em bambu, por meio da utilização de concreto e conectores de aço, de plásticos ou combinando-se com materiais poliméricos. Mais recentemente algumas aplicações e estudos tem evidenciado o potencial de utilizar-se nas conexões uma resina de poliuretano à base de óleo de mamona, eventualmente também reforçadas com fibras naturais ou sintéticas.

Risco de incêndio

A exemplo do que ocorre para a madeira, construções de bambu apresentam elevado risco durante incêndios. Esse fato ainda é reforçado pelo fato de, geralmente, utilizarem-se materiais vegetais na cobertura de quiosques e de outras construções em bambu. Por outro lado, também é muito grande o risco de propagar-se um incêndio na plantação de bambu, fato esse que é agravado pela imensa quantidade de folhas e ramos que se encontram depositados no solo. Por sinal, o nome “bambu” aparentemente se relaciona com o som produzido pela explosão dos colmos durante um incêndio…bam..boo!

Ausência de ferramentas apropriadas

Na preparação do bambu utilizam-se ferramentas e equipamentos desenvolvidos originalmente para a madeira, fazendo com que os resultados obtidos não sejam totalmente satisfatórios. Lâminas de grande diâmetro, com quantidade inadequada de dentes e rotação inadequada acabam dilacerando as células de bambu. Também o formato do colmo, geralmente cilíndrico pode favorecer o surgimento de acidentes devido à tendência de o colmo girar durante a operação. Além disso, devido à presença de sílica nas células periféricas do colmo, o desgaste das ferramentas é mais acentuado do que aquele observado nas madeiras, fazendo com que os profissionais não se mostrem entusiasmados em trabalharem com o bambu.

Escassez de mudas

Um dos grandes entraves à disseminação do uso do bambu em construções refere-se à ausência de fornecedores de mudas, quando se pensa na execução de projetos em escala industrial. Apenas para o setor do paisagismo e da decoração encontra-se certa disponibilidade de mudas (embora o preço seja, geralmente, muito elevado). Para plantios a serem efetuados em larga escala, a propagação in vitro será de vital importância.

Preconceito

Infelizmente ainda no Brasil não se descobriu o potencial do bambu para as mais diversas aplicações e nem foi despertado o interesse por plantações em larga escala. Prefere-se considerar o bambu como se fosse uma erva daninha e associá-lo então a obras temporárias ou que sejam ligadas à pobreza. Esse fato contrasta com o que ocorre em outros países da América Latina, nos quais o uso do bambu não encontra tantas restrições, sobretudo devido à escassez de madeira nativa. No entanto, iniciativas recentes da APROBAMBU tem buscado diminuir esse preconceito contra o plantio do bambu.

 

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