Apuama

Secagem

Comparado com madeiras de mesma densidade (em torno de 750 kg/m3), o bambu demora mais tempo para alcançar a umidade de equilíbrio com o meio ambiente. Pela disposição anatômica dos constituintes do bambu, a água encontra duas fortes barreiras para ser eliminada: a casca – que é praticamente impermeável, e a ausência de raios – o que dificulta a sua movimentação transversal ao longo da parede do colmo. Dessa forma, o principal meio de transporte da água  é efetuado na direção longitudinal através dos vasos, principalmente naqueles situados nas camadas internas do colmo, nas quais os diâmetros são maiores do que aqueles das demais regiões.

Secagem natural

A secagem natural é relativamente lenta e dependente das condições atmosféricas, além da forma de colocação (entabicamento) dos colmos. Deve-se evitar que o sol incida diretamente na maior superfície do colmo, orientando-o, portanto, na direção norte-sul travando-se os colmos entre si, na forma de um “x”, para evitar deslizamentos. Esse tipo de montagem dos colmos minimiza o aparecimento de fissuras ocasionadas pela expansão do ar situado nos entrenós. Outra possibilidade seria uma pequena perfuração dos colmos para a saída do ar, porém tal operação pode facilitar o ataque de insetos por esse local.

De uma forma geral, a secagem dos colmos de bambu é mais lenta do que seria necessário para uma madeira de mesmo diâmetro. O principal motivo se deve à disposição anatômica dos tecidos do bambu, sendo os vasos o principal duto de deslocamento da umidade do colmo, pois a casca do bambu é praticamente impermeável. Dessa forma, a evaporação da água é muito lenta, havendo um gradiente de umidade – sempre estão mais úmidas as partes da base do colmo e as camadas mais internas (maior teor de amido nas células parenquimáticas). Devido à ausência de raios no bambu, a migração da umidade na direção transversal é extremamente lenta, por meio das puntuações localizadas nas células parenquimáticas. Quando alcançam os vasos de maior diâmetro, o fluxo se torna ascendente, porém ainda assim é dificultado pelas forças de fricção encontradas ao longo do percurso até o topo do colmo. Outro fator importante é que a secagem ocorra em ambiente ventilado, pois a lentidão do processo pode acarretar a ocorrência de zonas escurecidas na parede dos colmos, devido ao ataque de fungos, depreciando seu valor comercial.

Secagem artificial

A secagem artificial dos colmos de bambu ainda não é devidamente aplicada no Brasil. Porém, na Colômbia, investigação de Joerg Stamm, utilizando o aquecimento do ar por energia solar e um engenhoso dispositivo para a circulação forçada do ar aquecido (“polvo”) através de orifícios nos diafragmas, permitiu reduzir significativamente o tempo necessário para a secagem de colmos do Guadua angustifolia. Devido ao gradiente de secagem que ocorre ao longo do comprimento do colmo, o processo pode ser melhorado invertendo-se a direção do fluxo de calor.

A cinética da secagem dos colmos de bambu, por meio de ar aquecido e insuflado internamente no colmo, ainda é merecedora de uma investigação científica mais aprofundada para otimizar o fluxo de ar, a temperatura ideal, o tempo de secagem, de forma a  tornar a secagem artificial viável do ponto de vista técnico-econômico, sem que o colmo seja danificado por rachaduras.

Experimento em andamento na Unicamp busca avaliar o efeito de secagem rápida de colmos de bambu por meio de ‘golpes” de ondas de calor, de forma também a modificar estruturalmente o amido visando, dessa forma, proteger o bambu por meio físico. No entanto, para que tal procedimento se mostre adequado na preservação do bambu, ensaios acelerados e de campo devem ser efetuados para confirmar essa possível degradação do amido e, de forma indireta, atestando a validade do processo na proteção do bambu, submetendo os colmos ao ataque de organismos xilófagos em ensaios acelerados em laboratório ou expondo-os diretamente no campo.

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