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Tratamentos Químicos

Tratamentos químicos

Os métodos químicos para o tratamento dos colmos de bambu são mais eficientes do que os métodos tradicionais. O tratamento químico, quando bem conduzido, protege os colmos contra o ataque do caruncho, além de aumentar sua durabilidade quando são colocados em contato com o solo.

Os produtos químicos preservantes, quando utilizados em concentrações adequadas, devem ser tóxicos aos organismos xilófagos, sem que, no entanto, sejam tóxicos ao homem e aos animais. Durante o tratamento químico, tais produtos devem penetrar profundamente no material a ser tratado, não devendo evaporar e nem serem eliminados pelas águas pluviais ou devido à ação da umidade do solo. Além disso, devem manter uma boa relação custo/benefício.

Os produtos químicos utilizados na preservação da madeira ou de colmos de bambu podem ser classificados em oleosos, oleossolúveis e hidrossolúveis.

Tratamentos químicos oleosos

O creosoto é o produto oleoso mais utilizado no tratamento preservativo da madeira. Esse produto pode ser de origem vegetal ou mineral. De acordo com Paes et al. (1998), o creosoto mineral, obtido a partir da destilação da hulha (carvão mineral), é mais eficiente no tratamento da madeira, principalmente contra o ataque de insetos. O creosoto vegetal é um subproduto da carbonização da madeira, sendo obtido a partir da destilação do alcatrão.

O método de tratamento mais utilizado, à base de produtos oleosos, é o banho quente – frio. Trata-se de um método bem eficiente contra o ataque do caruncho e de microorganismos presentes no solo. É um tratamento indicado para peças que virão a desempenhar funções estruturais, tais como, esteios, pilares, moirões. Nesse tipo de tratamento os colmos deverão estar secos. No tratamento requer-se os seguintes materiais;
–          quatro tambores metálicos (200 L);
–          termômetro;
–          produto preservativo (creosoto).

Para o tratamento a quente (90 °C),  três tambores metálicos podem ser cortados ao meio longitudinalmente e soldados, de maneira a se obter um tipo de cocho, no qual se efetua o aquecimento na região inferior. O banho quente tem duração de 2 a 3 h, utilizando-se cerca de 60 L de creosoto para tratar 100 peças com comprimento de 2,50 m de diâmetro de 12 cm. Isso corresponde a cerca de 21 L de creosoto por volume aparente de bambu, em metros cúbicos (ou seja, considera-se o bambu como se fosse maciço). Tal razão depende da geometria do colmo, e sobretudo da espessura da parede do mesmo.

Após o tratamento a quente deve-se proceder imediatamente ao tratamento a frio (mesmo produto em temperatura ambiente), o qual poderá ser feito em um tambor disposto na posição vertical. O tempo de tratamento será de, aproximadamente, 4 h. Após o banho frio, as peças devem permanecer armazenadas durante alguns dias, para que escorra o excesso de solução preservativa, após o qual estarão aptas para serem utilizadas.

Tratamentos químicos com oleossolúveis

O pentaclorofenol* (pó-da-China) é o produto oleossolúvel mais comum para o tratamento de madeiras, podendo também ser utilizado no tratamento de colmos de bambu contra o ataque de organismos xilófagos. A concentração de pentaclorofenol é de 5% em massa. Por não alterar a coloração dos colmos pode-se utilizar o óleo diesel como solvente; o óleo queimado também pode ser outra opção. Existem diferentes formulações comerciais à base de pentaclorofenol preparadas com solventes e aditivos. Os solventes podem ser: óleo diesel, querosene ou aguarraz. Como aditivos pode-se empregar inseticidas, como é o acaso do Pentox.

O tratamento com produtos oleossolúveis requer que os colmos de bambu estejam bem secos. O tratamento pode ser conduzido em caixas de alvenaria, ou em tambores idênticos àqueles descritos no item anterior. Consiste em deixar os colmos completamente submersos na solução durante um intervalo de 7 dias à temperatura ambiente. Os colmos podem ser utilizados após alguns dias de armazenamento.

* Atualmente esse produto tem uso restringido em vários países.

Tratamentos químicos com hidrossolúveis

Os produtos preservativos solúveis em água são constituídos pela associação de vários tipos de sais, cujas soluções aquosas penetram nos elementos anatômicos do bambu e reagem com a lignina. Formam-se, então, compostos insolúveis, que são tóxicos aos organismos xilófagos. Os sais mais utilizados são:
–          sulfato de cobre ou de zinco;
–          dicromato de sódio ou de potássio;
–          ácido bórico ou crômico.

No comércio existem formulações disponíveis, geralmente feitas à base de  dois ou mais sais. Por outro lado, esses sais podem ser adquiridos separadamente e, posteriormente, misturados para formarem a solução preservativa. Normalmente, utiliza-se a associação do sulfato de cobre, dicromato de sódio e ácido bórico, que são produtos relativamente baratos e facilmente encontrados no comércio. Deve-se ressaltar, no entanto, que a solução preparada com esses sais deve ser acidificada, pois, em meio alcalino, ocorre a precipitação dos sais formados. Após o preparo da solução, a acidificação é obtida adicionando-se pequena quantidade de ácido acético glacial.

Para o tratamento do bambu, pode-se utilizar colmos secos ou verdes. Na primeira condição utiliza-se o processo da imersão; na segunda (bambu verde) utiliza-se o método da substituição de seiva.

Tratamento com imersão em solução de sais hidrossolúveis

 Para esse tratamento, deve-se imergir totalmente os colmos secos na solução preservativa, a qual poderá ser composta por um, dois ou mais sais hidrossolúveis, listados anteriormente. A formulação da solução recomendada (em kg de sal/litro de solução) é:

sulfato de cobre (1%) + dicromato de sódio (1%) + ácido bórico (1%)

Nesse caso, a acidificação deve ser feita adicionando-se 200 mL de ácido acético glacial (para 100 L de solução). A duração do tratamento poderá ser de 2 a 4 semanas, em temperatura ambiente. Após o tratamento, as peças deverão ser armazenadas durante alguns dias e quando estiverem secas poderão ser utilizadas.

Substituição de seiva por sais hidrossolúveis

 Nesse caso deve-se utilizar colmos recém cortados (ou no máximo, após decorridas 12 h  do corte). Trata-se de um processo eficiente, desde que sejam utilizados colmos com até 2,50 m de comprimento. Para peças maiores, com até 4,00 m, a ascensão da solução preservativa torna-se muito limitada. A formulação dos sais pode ser a mesma descrita no item anterior. O tratamento pode ser conduzido em tambores plásticos sem tampa, nos quais se prepara a solução preservativa e se colocam os colmos de bambu verde na posição vertical. As bases dos colmos devem ser chanfradas e a altura da solução deve atingir cerca de 80 cm.

Durante o tratamento, à medida que se processa a evaporação da água contida na seiva do bambu através da região superior do colmo, a solução preservativa sobe, substituindo-a. Essa ascensão da solução é ocasionada pelos fenômenos físicos da difusão (direção radial) e capilaridade (direção axial). Os colmos a serem tratados devem ser colocados no tambor plástico de maneira que permitam uma boa ventilação entre si. Desse modo, acelera-se a evaporação, favorecendo a eficiência e a rapidez do tratamento.

A duração do tratamento é de 7 dias, ao final dos quais os colmos devem ser invertidos, permanecendo nessa posição por um período igual de tempo. Após o tratamento, os colmos devem ser empilhados à sombra durante 30 dias e protegidos da chuva. Essa recomendação é importante para que sejam completadas as reações entre os sais químicos e a lignina, e que seja realizada a secagem dos colmos, após o qual os mesmos poderão ser empregados.

Tratamento sob pressão

Bambus secos podem ser tratados em autoclaves, que são equipamentos utilizados normalmente para a  preservação da madeira. Quando se tratam colmos, os diafragmas devem ser previamente perfurados para que o colmo não rache durante a fase de aplicação do vácuo no equipamento. Em todo caso, deve-se prever um tratamento preventivo para que, enquanto sequem ao ar, os colmos não sejam atacados pelo caruncho.
Outro processo que se mostra promissor refere-se à utilização do ácido pirolenhoso, principalmente aplicado às ripas (taliscas) secas de bambu. Estudos recentes desenvolvidos na UNICAMP indicaram que soluções aquecidas de creosoto diluído a 10%, aplicadas durante 30 minutos, protegem o bambu do ataque de organismos xilófagos.

Para o tratamento de colmos recém cortados, em menor escala, o método mais recomendado é o de Boucherie modificado por pressão. Um dispositivo aplica pressão na solução hidrossolúvel, a qual penetra nos elementos anatômicos do bambu (principalmente nos grandes vasos, situados nas camadas internas da parede do colmo), empurrando a seiva em direção à extremidade oposta à da conexão. Embora rapidamente se observe a saída da solução, recomenda-se que o processo seja aplicado durante 3 h, e que, logo após, os colmos sejam deixados em posição horizontal e que sequem à sombra durante, ao menos, 15 dias. Essa segunda etapa – a difusão, é muito mais lenta, pois os bambus não apresentam raios, o que dificulta ou até mesmo impede a passagem da solução na direção radial.

Para saber mais

Avaliação da eficiência do tratamento

A eficiência de um determinado tratamento aplicado ao bambu, pode ser avaliada por meio de diversos tipos de análises. A primeira delas, trata-se da análise quantitativa, que visa quantificar os ingredientes ativos (i. a.) que foram absorvidos pelas diferentes células do bambu. Esse tipo de análise permite detectar, portanto, quanto foi absorvido, mas não permite avaliar por quais tecidos do bambu isso ocorreu. A segunda análise é a qualitativa, a qual permite avaliar especificamente em quais tecidos do bambu se encontram os elementos químicos constituintes da solução.

Avaliação de laboratório

O uso da microscopia eletrônica de varredura (MEV) é uma importante ferramenta que visa melhorar a compreensão da interação entre os tecidos do bambu e os elementos químicos presentes na solução. Pesquisas recentes indicaram que os vasos, principalmente aqueles situados nas camadas internas e, portanto, de maior diâmetro, são os principais depósitos dos metais pesados (cromo e cobre), frequentemente utilizados na maioria das soluções comerciais (cromo, cobre e boro – CCB, por exemplo). O boro, outro importante componente das soluções, apresenta um pequeno número atômico, motivo pelo qual não consegue ser rastreado nesse tipo de análise.Para detectar a presença do boro uma alternativa seria a aspersão de curcumina na superfície do bambu; havendo uma mudança na coloração dos tecidos isso seria um indicativo da presença do boro.

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Avaliação de campo

Outra forma de avaliar a eficiência de um determinado tratamento é aplicar-se o ensaio de campo. As taliscas de bambu são colocadas no solo até a metade de sua altura. Após determinado intervalo de tempo (de 2 a 6 meses), efetua-se a inspeção. Inicialmente, aplica-se um golpe com o pé – caso a talisca se rompa com o impacto, a ela é atribuída a nota “0″. Caso não se rompa, uma equipe de 3 a 5 pessoas preenche uma planilha específica, avaliando o desempenho das taliscas em relação ao ataque de fungos (visual e depois por pressão com a unha) e de cupins (visual). A talisca é então novamente colocada no solo, nele permanecendo até que ocorra a próxima avaliação. Experimentos recentes realizados na UNICAMP e na UNESP indicaram que ripas de bambu tratadas com borato de cobre cromatado (CCB) ou com octaborato de sódio (ABB – ácido bórico + bórax), nas concentrações de 5% e 8%, não suportaram mais do que 2 anos de exposição em campo.

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