
História do Bambu
O bambu é uma matéria-prima muito utilizada em diversas partes do mundo para os mais variados fins. No Brasil, no entanto, ainda não se aproveita todo o potencial dessa gramínea gigante.
A espécie vegetal conhecida vulgarmente por bambu pertence à família das Gramineae e apresenta mais de mil espécies espalhadas pelo mundo. A maioria das espécies encontra-se distribuída nos Continentes Asiático e Americano. A Ásia é o maior centro de biodiversidade do bambu, podendo ser considerada seu berço, principalmente pela grande aceitação que o bambu encontra junto à população.
Devido às suas múltiplas utilizações e pela facilidade em se efetuar seu plantio, o bambu é considerado, principalmente pelos povos asiáticos, como uma dádiva dos deuses, o ouro verde da floresta e o amigo do homem. No entanto, em outros países, como no Brasil, ao bambu ainda é atribuído, de forma pejorativa, o título de “madeira dos pobres”.
No Brasil, as espécies mais conhecidas e disseminadas de bambu são aquelas de origem asiática. Algumas delas foram introduzidas pelos colonizadores portugueses (principais gêneros: Bambusa e Dendrocalamus), tendo sido trazidas de suas possessões na Ásia. Atualmente, tais gêneros de bambus encontram-se disseminados por todo o território nacional, fazendo parte do ecossistema, servindo de proteção da fauna e preservando os lençóis d’água.
Além de fazer parte da típica paisagem rural brasileira, tais bambus começam a despertar o interesse econômico junto a diversas empresas. Pode-se citar, por exemplo, em Coelho Neto, no estado do Maranhão, as imensas plantações de Bambusa vulgaris Schrad, pertencentes ao grupo João Santos (Itapagé), destinadas à produção de celulose para a fabricação de sacarias industriais, principalmente para sacos de cimento.
Outros gêneros de bambus foram introduzidos mais recentemente ao Brasil, trazidos por imigrantes asiáticos (gêneros Sasa e Phyllostachys). Cabe destacar que tais bambus, de crescimento alastrante, atualmente constituem-se em importante fonte de renda para agricultores, artesãos e construtores em bambu.
O Brasil é detentor de um grande número de gêneros e de espécies de bambu. As espécies nativas são conhecidas geralmente por taquara, taboca, jativoca, taquaruçú ou taboca-açú, conforme sua região de ocorrência. Tais espécies, geralmente de porte arbustivo, se misturam e se confundem com a floresta. Existem grandes áreas desses tipos de bambu na Floresta Amazônica (Acre), no parque da Foz do Iguaçú e nas margens de alguns rios do Pantanal. Nessas regiões ocorrem bambus pertencentes ao gênero Guadua – um dos mais importantes para uso em construções.
Os portugueses, durante a colonização, estavam interessados apenas na extração do pau-brasil presente na Mata Atlântica, e não deram importância às gramíneas existentes nessa floresta, devido ao fato de as mesmas apresentarem pequeno porte, não servindo, de um modo geral, para uso em construções. Cabe lembrar que os bambus genuinamente nacionais e que apresentam porte elevado encontravam-se longe da Costa Atlântica; pode-se, inclusive, afirmar que a “descoberta” das florestas de bambus gigantes brasileiros é relativamente recente.
O Bambu na América Latina

Quando comparado com a Colômbia e o Equador, o Brasil encontra-se ainda em clara desvantagem no tocante ao uso e na aceitação do bambu junto à população. Uma hipótese provável para esse possível “atraso” tecnológico refere-se à direção segundo a qual se processou a colonização desses países, ou seja, enquanto que o Brasil foi colonizado via Oceano Atlântico, a Colômbia e o Equador o foram pelo Oceano Pacífico. Portanto, quando os espanhóis iniciaram a colonização de seus territórios na América do Sul, já se defrontaram com verdadeiras fortalezas construídas pelos nativos, feitas com o bambu Guadua. Desse modo, os descendentes desses nativos apenas continuaram (e com certeza aprimoraram) o uso da tecnologia da construção com bambu, combinando os conhecimentos ancestrais com as novas tecnologias aportadas pelo desenvolvimento de equipamentos mais adequados para processar o bambu. No Equador foi desenvolvido recentemente um importante programa social denominado “Hogar de Cristo“, o qual visa suprir a deficiência de moradias para a população de baixa renda, por meio da industrialização na produção de casas em bambu. Esteiras de bambu são produzidas na mata, secas em depósitos e posteriormente fixadas em marcos de madeira, constituindo as parede das moradias. Basta então que uma pequena fundação de concreto ou de madeira seja disponível para que a casinha seja rapidamente montada. No entanto, para maior durabilidade da construção é recomendável que seja efetuado o recobrimento das esteiras com argamassa de cimento e areia.
Atualmente o quadro desfavorável quanto à aceitação do bambu começa ser revertido em nosso país. Como fruto do esforço inicial de abnegados pesquisadores (Júlio Medina, Dirceu Ciaramelo, Anísio Azzini, Antonio Luiz Salgado, dentre outros), situados na Seção de Plantas Fibrosas do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), um pequeno grupo de interessados começou também a desenvolver atividades relacionadas a essa planta. Assim, ainda que de forma tímida, em universidades e centros de pesquisa começaram a ser investigadas as propriedades do bambu, propondo-se novas aplicações para esse material.
Esse mesmo caminho já havia sido trilhado por pesquisadores que haviam se interessado pelo estudo e aplicação do eucalipto – um gênero exótico introduzido da Austrália. Inicialmente recebido com muita desconfiança, e depois testado como combustível para as locomotivas da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, o eucalipto tem se mostrado atualmente uma importante fonte de riqueza para o Brasil, servindo para os mais variados usos na fabricação de carvão, na produção de celulose e papel e também para uso na construção civil.
O futuro do bambu no Brasil

Importantes eventos científicos, tais como EBRAMEM, NOCMAT e CONBEA, já dedicam parte da programação à apresentação de trabalhos sobre o bambu; da mesma forma, organismos financiadores (CNPq, FAPESP, dentre outros) também tem apoiado projetos que visem avaliar as características do bambu e das aplicações de seus derivados. No entanto, cumpre ressaltar também o apoio institucional que o bambu vem recebendo nos últimos tempos – o Seminário Nacional, realizado pela primeira vez em 2005, em Brasília, constituiu um divisor de águas, e permitiu que pela primeira vez no Brasil houvesse um edital específico do CNPq para pesquisar o bambu, conseguindo-se, em 2007, financiamento para 12 grupos espalhados pelo território nacional. No segundo evento, realizado em 2008, em Rio Branco – AC, constituiu-se a Rede Brasileira do Bambu (RBB), que visa congregar todos aqueles que se interessam pelo estudo e pela aplicação do bambu e de seus derivados. Em 2014, O CNPq lançou um novo edital voltado à ampliação dos conhecimentos sobre o bambu, permitindo que outros grupos de pesquisa pudessem ser contemplados com recursos financeiros aumentando, dessa forma, a disseminação do conhecimento em distintas partes do país. No III Seminário da Rede Brasileira do Bambu, realizado em outubro de 2015, em Goiânia – GO, foram apresentados os resultados de pesquisas recentes desenvolvidas em várias regiões brasileiras envolvendo desde a utilização do bambu no tratamento de esgotos até a sua aplicação em materiais e estruturas elaboradas. Nesse evento, encontravam-se presentes as principais lideranças nos diversos segmentos envolvidos no estudo do bambu. O evento foi ainda abrilhantado pela presença do renomado arquiteto colombiano Simón Vélez – um exemplo para aqueles que sonham em construir grandes obras com o bambu.
Para confirmar de vez o apoio governamental, em recente missão à China, o Governo Federal firmou recentemente um acordo de cooperação técnica, justamente para parcerias com um velho conhecido dos chineses – o bambu! Esse fato é de grande importância, principalmente levando-se em consideração o interesse industrial pela utilização de bambus nativos do Acre, motivo pelo qual será muito importante compartir da experiência chinesa na exploração industrial de florestas de bambu.
E, finalmente, em 2011 o Governo Federal sancionou uma lei de incentivo ao plantio do bambu (Lei Federal 12484), o que sem sombra de dúvida irá despertar o interesse empresarial visando à implantação do plantio do bambu em grande escala, provavelmente para fins de obtenção, em uma primeira etapa, de biomassa energética.
Deve-se lembrar que uma iniciativa similar, na década de 1960, estimulou o plantio do eucalipto e do pinus no território nacional. E hoje produtos à base dessas duas madeiras respondem por substancial parcela no agronegócio brasileiro, empregando milhares de pessoas e aportando riqueza ao país.
Outra importante iniciativa governamental refere-se à filiação do Brasil ao INBAR (International Network for Bamboo and Rattan), um sonho acalentado há muitos anos pelos bambuzeiros brasileiros. O Brasil é um dos poucos países da América do Sul que ainda não fazem parte dessa prestigiosa rede que disponibiliza as mais importantes informações sobre o bambu e o ratã (junco). Embora os recursos financeiros necessários para a filiação do Brasil ao INBAR não sejam de grande monta principalmente quando se considera o potencial econômico apresentado pelo bambu, no entanto, ainda persistem trâmites burocráticos fazendo com que a comunidade bambuzeira brasileira fique isolada em termos de apoio técnico.
Por outro lado, atualmente importantes organizações já se fazem presentes no território nacional, destacando-se a RBB – Rede Brasileira do Bambu, dezenas de associações estaduais (REBASP – Rede do Bambu de São Paulo; Bambusc – Rede do Bambu de Santa Catarina, Agabambu – Rede Gaúcha do Bambu,dentre outras), além da recentemente criada APROBAMBU – Associação Brasileira dos Produtores de Bambu. Dentre os desafios encontrados pela APROBAMBU destacam-se, além da divulgação da importância do plantio do bambu junto aos proprietários rurais, a busca de alternativas para se efetuar a colheita mecanizada, conforme se verificou com sucesso em recente demonstração realizada no Instituto Agronômico de Campinas, em Tatuí – SP. A interação com fabricantes de equipamentos para a colheita do bambu implica, igualmente, em que sejam revistos os critério utilizados nos plantios atuais do bambu, em termos de espaçamento entre ruas e entre plantas, principalmente quanto à escolha da espécie que se mostre mais promissora em termos de fornecimento de energia por hectare. Da mesma forma, deve ser avaliado o impacto causado pela operação de corte nas futuras brotações – caminho esse também buscado na otimização da colheita mecanizada da cana-de-açúcar.
Espécies
Devido ao ciclo irregular de produção de flores e de sementes nos bambus, que são os principais elementos utilizados na identificação de uma planta, se torna uma tarefa muito complicada avaliar-se o número existente de gêneros e de espécies de bambus.
Para comprovar tal fato, um especialista chinês, em visita ao Brasil, afirmou que as touceiras identificadas nas regiões em que visitou, como sendo pertencentes à espécie Dendrocalamus giganteus se tratavam, na verdade, de D. asper. A separação visual entre as duas espécies é muito difícil – o asper, de uma forma geral, apresenta colmos mais ásperos do que aqueles do giganteus, além dos seus brotos apresentarem uma cor de tonalidade marrom-amarelada escura.
No entanto, um fato recente chamou a atenção da comunidade bambuzeira presente no III Seminário da RBB, em Goiânia. O conceituado taxonomista brasileiro Tarcisio Filgueiras, especialista em gramíneas nativas, informou que encontrou uma touceira de D. giganteus, em uma região afastada do Espírito Santo. Ora, como a propagação do bambu geralmente é feita de forma vegetativa, significa que essa touceira foi originada de uma outra touceira existente na região ou que a ela foi trazida. Ou seja, seria altamente improvável que existisse apenas essa touceira dessa espécie em nosso país. Atualmente existem ferramentas mais modernas para elucidar essa questão – a análise comparativa pelo DNA por meio de, por exemplo, marcadores moleculares, e posterior comparação com informações contidas em banco de dados genômicos. Portanto, resta ainda muito trabalho a ser feito para que se consiga identificar corretamente as espécies existentes no Brasil, quer sejam elas nativas ou exóticas.
Recente publicação (2010) “China’s bamboo. Culture/Resources/Cultivation/Utilization”, de autoria de Yang, Yuming e Hui, Chaomao, publicado pelo INBAR (International Network for Bamboo and Rattan) relata que seriam entre 70-80 gêneros, compreendendo cerca de 1000 espécies.
Independentemente desses números encontrados, que ainda são polêmicos, os bambus se dividem, quanto à forma de propagação, em duas categorias:
Entouceirante
entouceirantes, de moita, agrupados, paquimorfos – são bambus que ocorrem naturalmente em regiões tropicais, não sendo, portanto, tolerantes às baixas temperaturas.
Principais gêneros: Dendrocalamus, Bambusa, Gigantoclhoa e Guadua.
Esse último – o mais importante bambu natural das Américas, apresenta uma característica diferente dos demais, pois os seus colmos emergem relativamente espaçados uns dos outros, o que favorece sua posterior colheita. No entanto, a colheita dos colmos de G. angustifolia em áreas naturais acidentadas principalmente da Colômbia e do Equador não é uma tarefa assim tão fácil, pois além das dificuldades de acesso aos bambuzais, essa espécie apresenta espinhos duros e grossos, inclusive nos ramos, dificultando sua extração.

Alastrantes
alastrantes, individuais, leptmorfos, invasores – são bambus que ocorrem naturalmente em regiões temperadas. Por suportarem baixas temperaturas tem sido intensivamente cultivados em viveiros na Europa, destinando-se, principalmente, ao paisagismo e à decoração de ambientes.
Principais gêneros: Phyllostachys, Sasa e Pleioblastus.
O primeiro gênero contempla as espécies de maior valor econômico, principalmente: P. edulis (ou P. pubescens – bambu mosô), P. bambusoides e P. aurea. De origem asiática, tais bambu apresentam atualmente grande valor econômico para o suprimento de matéria-prima para movelaria e para fabricação de objetos de lazer (varas-de-pescar). O bambu Mosô também é muito valorizado na produção de brotos comestíveis, após a fervura em água, fazendo tal alimento parte imprescindível da culinária asiática. Porém, deve ser lembrado que a brotação do bambu ocorre apenas anualmente (para essa espécie em setembro-novembro, no Brasil), motivo pelo qual uma indústria deve ter tal fato em conta para seu planejamento, por meio estoques apropriados ou pela utilização também de brotos originários de espécies entouceirantes (Dendrocalamus e Bambusa), cuja brotação ocorre de dezembro a março. Dessa forma, seria garantido um maior suprimento de matéria-prima para comercialização. Cumpre esclarecer que devido à constituição química de uma determinada espécie de bambu, nem todos os brotos são palatáveis, sendo alguns extremamente amargos. De uma forma geral, quanto mais palatável for o broto, maior seria a tendência de que o colmo adulto sofresse ataque de organismos xilófagos.
Secagem
Comparado com madeiras de mesma densidade (em torno de 750 kg/m3), o bambu demora mais tempo para alcançar a umidade de equilíbrio com o meio ambiente. Pela disposição anatômica dos constituintes do bambu, a água encontra duas fortes barreiras para ser eliminada: a casca – que é praticamente impermeável, e a ausência de raios – o que dificulta a sua movimentação transversal ao longo da parede do colmo. Dessa forma, o principal meio de transporte da água é efetuado na direção longitudinal através dos vasos, principalmente naqueles situados nas camadas internas do colmo, nas quais os diâmetros são maiores do que aqueles das demais regiões.
Secagem natural

A secagem natural é relativamente lenta e dependente das condições atmosféricas, além da forma de colocação (entabicamento) dos colmos. Deve-se evitar que o sol incida diretamente na maior superfície do colmo, orientando-o, portanto, na direção norte-sul travando-se os colmos entre si, na forma de um “x”, para evitar deslizamentos. Esse tipo de montagem dos colmos minimiza o aparecimento de fissuras ocasionadas pela expansão do ar situado nos entrenós. Outra possibilidade seria uma pequena perfuração dos colmos para a saída do ar, porém tal operação pode facilitar o ataque de insetos por esse local.
De uma forma geral, a secagem dos colmos de bambu é mais lenta do que seria necessário para uma madeira de mesmo diâmetro. O principal motivo se deve à disposição anatômica dos tecidos do bambu, sendo os vasos o principal duto de deslocamento da umidade do colmo, pois a casca do bambu é praticamente impermeável. Dessa forma, a evaporação da água é muito lenta, havendo um gradiente de umidade – sempre estão mais úmidas as partes da base do colmo e as camadas mais internas (maior teor de amido nas células parenquimáticas). Devido à ausência de raios no bambu, a migração da umidade na direção transversal é extremamente lenta, por meio das puntuações localizadas nas células parenquimáticas. Quando alcançam os vasos de maior diâmetro, o fluxo se torna ascendente, porém ainda assim é dificultado pelas forças de fricção encontradas ao longo do percurso até o topo do colmo. Outro fator importante é que a secagem ocorra em ambiente ventilado, pois a lentidão do processo pode acarretar a ocorrência de zonas escurecidas na parede dos colmos, devido ao ataque de fungos, depreciando seu valor comercial.
Secagem artificial

A secagem artificial dos colmos de bambu ainda não é devidamente aplicada no Brasil. Porém, na Colômbia, investigação de Joerg Stamm, utilizando o aquecimento do ar por energia solar e um engenhoso dispositivo para a circulação forçada do ar aquecido (“polvo”) através de orifícios nos diafragmas, permitiu reduzir significativamente o tempo necessário para a secagem de colmos do Guadua angustifolia. Devido ao gradiente de secagem que ocorre ao longo do comprimento do colmo, o processo pode ser melhorado invertendo-se a direção do fluxo de calor.
A cinética da secagem dos colmos de bambu, por meio de ar aquecido e insuflado internamente no colmo, ainda é merecedora de uma investigação científica mais aprofundada para otimizar o fluxo de ar, a temperatura ideal, o tempo de secagem, de forma a tornar a secagem artificial viável do ponto de vista técnico-econômico, sem que o colmo seja danificado por rachaduras.
Experimento em andamento na Unicamp busca avaliar o efeito de secagem rápida de colmos de bambu por meio de ‘golpes” de ondas de calor, de forma também a modificar estruturalmente o amido visando, dessa forma, proteger o bambu por meio físico. No entanto, para que tal procedimento se mostre adequado na preservação do bambu, ensaios acelerados e de campo devem ser efetuados para confirmar essa possível degradação do amido e, de forma indireta, atestando a validade do processo na proteção do bambu, submetendo os colmos ao ataque de organismos xilófagos em ensaios acelerados em laboratório ou expondo-os diretamente no campo.
Preservação
A maioria das espécies de bambu apresenta baixa durabilidade natural ao ataque de organismos xilófagos. Devido à presença do amido nas células parenquimáticas o bambu é alvo do ataque do caruncho (Dinoderus minutus). Além disso, quando exposto às intempéries e quando em permanente contato com a umidade dos solo, o bambu torna-se alvo do ataque de fungos. Desse modo, independentemente da espécie de bambu utilizada, o primeiro cuidado a ser tomado chama-se “proteção por projeto”. Ou seja, deve-se conceber a utilização do bambu em um ambiente em que ele se encontre naturalmente protegido do ataque de organismos xilófagos, evitando-se, ao menos, sua exposição às intempéries. De uma forma bem simples trata-se de afirmar que toda boa construção com bambu (e também com a madeira) necessita “de um bom chapéu e de uma boa bota”.
No meio rural, acredita-se que a fase da Lua, por ocasião da colheita, influi na durabilidade natural dos colmos, principalmente quanto à resistência ao ataque do caruncho. De acordo com essa crença, a época da fase da Lua minguante é a mais indicada para se efetuar a colheita dos colmos de bambu. Porém, com relação ao ataque do caruncho, trabalhos de pesquisa desenvolvidos por Simão (1957) e Kirkpatrick & Simonds (1958) concluíram que a escolha das fases da Lua não evita o ataque do caruncho. Além disso, seria altamente improvável que, durante a fase da Lua minguante, o amido presente nas células parenquimáticas fosse deslocado para os rizomas (?), deles retornando ao local de origem logo após a mudança da fase da Lua! Por outro lado, sabe-se que a Lua exerce influência gravitacional sobre a Terra o que poderia explicar a presença de um menor teor de seiva nas plantas nessa fase específica, diminuindo, dessa forma, o risco de ataque dos colmos por alguns tipos de organismos xilófagos. Além disso, em alguns países andinos se recomenda que o corte dos colmos seja feito “nas horas mais escuras da madrugada”, pois na ausência de luz a fotossíntese é interrompida, favorecendo o bambu em termos de durabilidade. Embora tenha um respaldo científico, essa proposta porém não apresenta nenhum fundamento lógico, tendo em vista a dificuldade que se encontra em coletar colmos de grandes dimensões (e com grossos espinhos) principalmente em áreas de difícil acesso, como seria o caso da Cordilheira dos Andes.
Embora não seja um procedimento usual quando se pensa na utilização do bambu em larga escala, o mais lógico seria cortar cuidadosamente os colmos poucas semanas após o início das brotações anuais. Nesse caso, os colmos adultos estariam com baixo teor de amido o qual foi destinado, basicamente, à nutrição dos colmos jovens. No entanto, é grande o risco de que, ao cortar os colmos adultos, também sejam danificados os brotos.
Por seu potencial econômico, vários procedimentos devem ser adotados visando prolongar a vida útil do bambu, dividindo-se os distintos tratamentos em naturais e químicos.
Idade para o corte
Esse é o procedimento mais simples de ser efetuado. Os colmos maduros geralmente são mais resistentes aos ataques de fungos e de insetos, além de apresentarem melhor desempenho mecânico, até certa idade, quando então começam a degradar-se naturalmente. O maior problema refere-se ao desconhecimento da idade dos colmos, visto que raramente se efetua um tipo de marcação anual nos colmos, a exemplo do que é efetuado na China.
A maturação dos colmos, ou a idade mais adequada por ocasião de se efetuar a sua colheita, é um importante fator biológico que deve ser levado em consideração, principalmente quando da utilização do bambu como um material estrutural para colunas, vigas, tesouras, pontaletes e andaimes. Devem ser utilizados apenas colmos maduros e que estejam completamente lignificados. A idade mais adequada para efetuar a colheita dos colmos depende de seu ciclo vegetativo, o qual pode ser curto (em torno de 7 anos) ou longo (em torno de 14 anos). Para as espécies de ciclo curto, tais como, o bambu comum (Bambusa vulgaris), o bambu fino (Bambusa tuldoides) e o bambu imperial (B. vulgaris var. vittata), os colmos devem ser colhidos quando apresentarem idade superior a 3 anos. Para as espécies de ciclo longo, tais como, o bambu gigante (Dendrocalamus giganteus) e guadua (Guadua angustifolia), a idade mais indicada para o corte seria em torno de 6 anos.
Cura na mata

Os colmos de bambu devem ser cortados e deixados a secar na própria touceira, geralmente apoiando-se a base inferior do colmo em uma pedra ou em outros colmos da mesma touceira. Quando as folhas secarem e caírem, após cerca de 20 dias, o colmo poderá ser utilizado. Nessa técnica, denominada de “avinagrado” na Colômbia, ocorre a degradação (fermentação) do amido e da seiva presentes no colmo, reconhecida pelo odor azedo, geralmente aumentando a durabilidade do colmo, que se torna impalatável aos insetos. Porém, os resultados desse tipo de tratamento não são tão eficientes quando os colmos ficarem posteriormente em contato com o solo. Além disso, em uma área pública, o maior risco é o de, quando os colmos estiverem secos, sejam retirados por terceiros.
Tratamento por imersão
Os colmos podem ser imersos em água (parada ou corrente). Em alguns casos os colmos devem ser recém cortados; em outros, pode-se utilizar colmos secos ao ar.
Logo após a colheita, os colmos de bambu devem ser submersos em água corrente (riachos) ou estagnada (lagoa, piscina etc.), visando-se reduzir ou eliminar o teor de amido existente nos colmos, por meio da fermentação biológica anaeróbica (ausência de ar). A duração do tratamento pode variar de 4 a 7 semanas. Com a redução ou a eliminação do amido, provocado pela fermentação, procura-se minimizar ou evitar o ataque do caruncho. Os colmos de bambu são relativamente leves e tendem a flutuar quando são colocados na água. Desse modo, os colmos devem ser amarrados em feixes, nos quais se prende um peso para forçar sua submersão. De acordo com Sulthoni (1981), a imersão do bambu em água estagnada é um tratamento mais eficiente do que deixá-lo em água corrente. A explicação para tal fato é que a degradação enzimática do amido é mais intensa do que sua extração, realizada pela ação da água corrente. Cabe ressaltar, no entanto, que alguns cuidados devem ser tomados nesse processo. Um longo tempo de permanência em água estagnada tende a provocar manchas nos colmos, além de ocorrer o risco do desenvolvimento de larvas de insetos, sobretudo pernilongos. O odor resultante da degradação biológica é também desagradável, devendo os colmos, ao final do processo, serem limpos em água corrente.
Observação 1: Quando o tratamento é feito por aspersão, o método apresenta pouca eficiência (ou mesmo nenhuma), já que a absorção do produto é feita apenas pelas extremidades do colmo ou por eventuais rachaduras existentes nas paredes do colmo. Conforme relatado, a casca do bambu é impermeável, motivo pelo qual a solução química tenderá apenas a escorrer, sem penetrar na parede do colmo.
Observação 2: Outra alternativa adotada frequentemente pelos bambuzeiros para prevenir ou combater o ataque do caruncho consiste na perfuração dos internódios, com a posterior injeção neles de uma solução química. No entanto, com exceção da região do diafragma, as paredes internas do colmo também são impermeáveis, sendo tal tipo de tratamento de limitada eficiência.
Tratamento pelo fogo
Consiste em submeter os colmos recém cortados ao aquecimento em fogo direto, visando eliminar a seiva por exsudação. Com o aquecimento procura-se alterar (degradar) quimicamente o amido tornando-o menos atraente ao caruncho. Esse tratamento é muito utilizado para colmos de bambu pertencentes ao gênero Phyllostachys, tais como, o P. aurea (cana-da-Índia) e o P. edulis (mosô). Durante o tratamento ao fogo ocorre o derretimento de um tipo de cera natural presente na casca do bambu, e a fricção constante dos colmos por um tecido seco, ou impregnado com óleo diesel, provoca o surgimento de uma coloração parda brilhante, realçada quando o aquecimento é mais intenso na região dos nós, característica extremamente desejável em móveis, bengalas e varas-de-pescar. No entanto, espécies de bambu do tipo entouceirante, tais como, o bambu gigante e o bambu imperial, não adquirem tal coloração e nem tal brilho característico obtido nos bambus alastrantes. Para o bambu guadua, pode-se obter uma qualidade de superfície intermediária entre os dois grupos, impregnando-se posteriormente os colmos com cera artificial incolor.
Tratamento pelo fumaça
Os colmos, logo após o corte, são submetidos à ação direta da fumaça, a qual os torna enegrecidos. Trata-se de um processo semelhante ao da defumação de alimentos. Devido à ação combinada do calor e da fumaça, provavelmente se formem produtos tóxicos na superfície externa dos colmos, além da degradação sofrida pelo amido pela ação do calor, culminando por tornar os colmos menos atraentes ao caruncho. No Japão, o tratamento com fumaça é realizado durante 20 minutos, com temperatura variando de 120 a 150 °C, conforme descreveu Liese (1980). O principal inconveniente observado nesse tipo de tratamento é a grande ocorrência de rachaduras nos colmos, devido à expansão do ar neles contido, quando se tenta acelerar o processo.
Uma variante desse método pode ser aplicada quando da produção de carvão vegetal de madeira ou de bambu. O diafragma do colmo é perfurado com uma barra metálica e utiliza-se o colmo como se fosse uma chaminé – a passagem da fumaça através do colmo propicia o depósito de substâncias tóxicas (ácido pirolenhoso) nas camadas internas e mais vulneráveis do colmo. O processo pode ser bem rápido, possibilitando a troca dos colmos, os quais, após o tratamento, devem ainda passar por uma etapa de armazenamento até que sequem ao ar.
Tratamentos químicos
Os métodos químicos para o tratamento dos colmos de bambu são mais eficientes do que os métodos tradicionais. O tratamento químico, quando bem conduzido, protege os colmos contra o ataque do caruncho, além de aumentar sua durabilidade quando são colocados em contato com o solo.
Os produtos químicos preservantes, quando utilizados em concentrações adequadas, devem ser tóxicos aos organismos xilófagos, sem que, no entanto, sejam tóxicos ao homem e aos animais. Durante o tratamento químico, tais produtos devem penetrar profundamente no material a ser tratado, não devendo evaporar e nem serem eliminados pelas águas pluviais ou devido à ação da umidade do solo. Além disso, devem manter uma boa relação custo/benefício.
Os produtos químicos utilizados na preservação da madeira ou de colmos de bambu podem ser classificados em oleosos, oleossolúveis e hidrossolúveis.
Tratamentos químicos oleosos
O creosoto é o produto oleoso mais utilizado no tratamento preservativo da madeira. Esse produto pode ser de origem vegetal ou mineral. De acordo com Paes et al. (1998), o creosoto mineral, obtido a partir da destilação da hulha (carvão mineral), é mais eficiente no tratamento da madeira, principalmente contra o ataque de insetos. O creosoto vegetal é um subproduto da carbonização da madeira, sendo obtido a partir da destilação do alcatrão.
O método de tratamento mais utilizado, à base de produtos oleosos, é o banho quente – frio. Trata-se de um método bem eficiente contra o ataque do caruncho e de microorganismos presentes no solo. É um tratamento indicado para peças que virão a desempenhar funções estruturais, tais como, esteios, pilares, moirões. Nesse tipo de tratamento os colmos deverão estar secos. No tratamento requer-se os seguintes materiais;
– quatro tambores metálicos (200 L);
– termômetro;
– produto preservativo (creosoto).
Para o tratamento a quente (90 °C), três tambores metálicos podem ser cortados ao meio longitudinalmente e soldados, de maneira a se obter um tipo de cocho, no qual se efetua o aquecimento na região inferior. O banho quente tem duração de 2 a 3 h, utilizando-se cerca de 60 L de creosoto para tratar 100 peças com comprimento de 2,50 m de diâmetro de 12 cm. Isso corresponde a cerca de 21 L de creosoto por volume aparente de bambu, em metros cúbicos (ou seja, considera-se o bambu como se fosse maciço). Tal razão depende da geometria do colmo, e sobretudo da espessura da parede do mesmo.
Após o tratamento a quente deve-se proceder imediatamente ao tratamento a frio (mesmo produto em temperatura ambiente), o qual poderá ser feito em um tambor disposto na posição vertical. O tempo de tratamento será de, aproximadamente, 4 h. Após o banho frio, as peças devem permanecer armazenadas durante alguns dias, para que escorra o excesso de solução preservativa, após o qual estarão aptas para serem utilizadas.
Tratamentos químicos com oleossolúveis
O pentaclorofenol* (pó-da-China) é o produto oleossolúvel mais comum para o tratamento de madeiras, podendo também ser utilizado no tratamento de colmos de bambu contra o ataque de organismos xilófagos. A concentração de pentaclorofenol é de 5% em massa. Por não alterar a coloração dos colmos pode-se utilizar o óleo diesel como solvente; o óleo queimado também pode ser outra opção. Existem diferentes formulações comerciais à base de pentaclorofenol preparadas com solventes e aditivos. Os solventes podem ser: óleo diesel, querosene ou aguarraz. Como aditivos pode-se empregar inseticidas, como é o acaso do Pentox.
O tratamento com produtos oleossolúveis requer que os colmos de bambu estejam bem secos. O tratamento pode ser conduzido em caixas de alvenaria, ou em tambores idênticos àqueles descritos no item anterior. Consiste em deixar os colmos completamente submersos na solução durante um intervalo de 7 dias à temperatura ambiente. Os colmos podem ser utilizados após alguns dias de armazenamento.
* Atualmente esse produto tem uso restringido em vários países.
Tratamentos químicos com hidrossolúveis
Os produtos preservativos solúveis em água são constituídos pela associação de vários tipos de sais, cujas soluções aquosas penetram nos elementos anatômicos do bambu e reagem com a lignina. Formam-se, então, compostos insolúveis, que são tóxicos aos organismos xilófagos. Os sais mais utilizados são:
– sulfato de cobre ou de zinco;
– dicromato de sódio ou de potássio;
– ácido bórico ou crômico.
No comércio existem formulações disponíveis, geralmente feitas à base de dois ou mais sais. Por outro lado, esses sais podem ser adquiridos separadamente e, posteriormente, misturados para formarem a solução preservativa. Normalmente, utiliza-se a associação do sulfato de cobre, dicromato de sódio e ácido bórico, que são produtos relativamente baratos e facilmente encontrados no comércio. Deve-se ressaltar, no entanto, que a solução preparada com esses sais deve ser acidificada, pois, em meio alcalino, ocorre a precipitação dos sais formados. Após o preparo da solução, a acidificação é obtida adicionando-se pequena quantidade de ácido acético glacial.
Para o tratamento do bambu, pode-se utilizar colmos secos ou verdes. Na primeira condição utiliza-se o processo da imersão; na segunda (bambu verde) utiliza-se o método da substituição de seiva.
Tratamento com imersão em solução de sais hidrossolúveis

Para esse tratamento, deve-se imergir totalmente os colmos secos na solução preservativa, a qual poderá ser composta por um, dois ou mais sais hidrossolúveis, listados anteriormente. A formulação da solução recomendada (em kg de sal/litro de solução) é:
sulfato de cobre (1%) + dicromato de sódio (1%) + ácido bórico (1%)
Nesse caso, a acidificação deve ser feita adicionando-se 200 mL de ácido acético glacial (para 100 L de solução). A duração do tratamento poderá ser de 2 a 4 semanas, em temperatura ambiente. Após o tratamento, as peças deverão ser armazenadas durante alguns dias e quando estiverem secas poderão ser utilizadas.
Substituição de seiva por sais hidrossolúveis

Nesse caso deve-se utilizar colmos recém cortados (ou no máximo, após decorridas 12 h do corte). Trata-se de um processo eficiente, desde que sejam utilizados colmos com até 2,50 m de comprimento. Para peças maiores, com até 4,00 m, a ascensão da solução preservativa torna-se muito limitada. A formulação dos sais pode ser a mesma descrita no item anterior. O tratamento pode ser conduzido em tambores plásticos sem tampa, nos quais se prepara a solução preservativa e se colocam os colmos de bambu verde na posição vertical. As bases dos colmos devem ser chanfradas e a altura da solução deve atingir cerca de 80 cm.
Durante o tratamento, à medida que se processa a evaporação da água contida na seiva do bambu através da região superior do colmo, a solução preservativa sobe, substituindo-a. Essa ascensão da solução é ocasionada pelos fenômenos físicos da difusão (direção radial) e capilaridade (direção axial). Os colmos a serem tratados devem ser colocados no tambor plástico de maneira que permitam uma boa ventilação entre si. Desse modo, acelera-se a evaporação, favorecendo a eficiência e a rapidez do tratamento.
A duração do tratamento é de 7 dias, ao final dos quais os colmos devem ser invertidos, permanecendo nessa posição por um período igual de tempo. Após o tratamento, os colmos devem ser empilhados à sombra durante 30 dias e protegidos da chuva. Essa recomendação é importante para que sejam completadas as reações entre os sais químicos e a lignina, e que seja realizada a secagem dos colmos, após o qual os mesmos poderão ser empregados.
Tratamento sob pressão

Bambus secos podem ser tratados em autoclaves, que são equipamentos utilizados normalmente para a preservação da madeira. Quando se tratam colmos, os diafragmas devem ser previamente perfurados para que o colmo não rache durante a fase de aplicação do vácuo no equipamento. Em todo caso, deve-se prever um tratamento preventivo para que, enquanto sequem ao ar, os colmos não sejam atacados pelo caruncho.
Outro processo que se mostra promissor refere-se à utilização do ácido pirolenhoso, principalmente aplicado às ripas (taliscas) secas de bambu. Estudos recentes desenvolvidos na UNICAMP indicaram que soluções aquecidas de creosoto diluído a 10%, aplicadas durante 30 minutos, protegem o bambu do ataque de organismos xilófagos.
Para o tratamento de colmos recém cortados, em menor escala, o método mais recomendado é o de Boucherie modificado por pressão. Um dispositivo aplica pressão na solução hidrossolúvel, a qual penetra nos elementos anatômicos do bambu (principalmente nos grandes vasos, situados nas camadas internas da parede do colmo), empurrando a seiva em direção à extremidade oposta à da conexão. Embora rapidamente se observe a saída da solução, recomenda-se que o processo seja aplicado durante 3 h, e que, logo após, os colmos sejam deixados em posição horizontal e que sequem à sombra durante, ao menos, 15 dias. Essa segunda etapa – a difusão, é muito mais lenta, pois os bambus não apresentam raios, o que dificulta ou até mesmo impede a passagem da solução na direção radial.
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Avaliação da eficiência do tratamento
A eficiência de um determinado tratamento aplicado ao bambu, pode ser avaliada por meio de diversos tipos de análises. A primeira delas, trata-se da análise quantitativa, que visa quantificar os ingredientes ativos (i. a.) que foram absorvidos pelas diferentes células do bambu. Esse tipo de análise permite detectar, portanto, quanto foi absorvido, mas não permite avaliar por quais tecidos do bambu isso ocorreu. A segunda análise é a qualitativa, a qual permite avaliar especificamente em quais tecidos do bambu se encontram os elementos químicos constituintes da solução.
Avaliação de laboratório

O uso da microscopia eletrônica de varredura (MEV) é uma importante ferramenta que visa melhorar a compreensão da interação entre os tecidos do bambu e os elementos químicos presentes na solução. Pesquisas recentes indicaram que os vasos, principalmente aqueles situados nas camadas internas e, portanto, de maior diâmetro, são os principais depósitos dos metais pesados (cromo e cobre), frequentemente utilizados na maioria das soluções comerciais (cromo, cobre e boro – CCB, por exemplo). O boro, outro importante componente das soluções, apresenta um pequeno número atômico, motivo pelo qual não consegue ser rastreado nesse tipo de análise.Para detectar a presença do boro uma alternativa seria a aspersão de curcumina na superfície do bambu; havendo uma mudança na coloração dos tecidos isso seria um indicativo da presença do boro.
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Avaliação de campo

Outra forma de avaliar a eficiência de um determinado tratamento é aplicar-se o ensaio de campo. As taliscas de bambu são colocadas no solo até a metade de sua altura. Após determinado intervalo de tempo (de 2 a 6 meses), efetua-se a inspeção. Inicialmente, aplica-se um golpe com o pé – caso a talisca se rompa com o impacto, a ela é atribuída a nota “0″. Caso não se rompa, uma equipe de 3 a 5 pessoas preenche uma planilha específica, avaliando o desempenho das taliscas em relação ao ataque de fungos (visual e depois por pressão com a unha) e de cupins (visual). A talisca é então novamente colocada no solo, nele permanecendo até que ocorra a próxima avaliação. Experimentos recentes realizados na UNICAMP e na UNESP indicaram que ripas de bambu tratadas com borato de cobre cromatado (CCB) ou com octaborato de sódio (ABB – ácido bórico + bórax), nas concentrações de 5% e 8%, não suportaram mais do que 2 anos de exposição em campo.
Características Anatômicas
Sob o ponto de vista anatômico, o que diferencia o bambu das madeiras é principalmente a ausência dos raios, o que indica uma maior dificuldade no momento de se efetuarem ligações entre peças de bambu, devido à sua baixa resistência ao fendilhamento. De uma forma geral, na seção transversal de um colmo de bambu pode-se observar:
Feixes de fibras
Apresentam concentração de 70% nas camadas periféricas (próximas da casca) diminuindo gradativamente em direção às camadas internas (20%). São responsáveis pela resistência mecânica do bambu e pela proteção dos feixes de vasos. Em amostras polidas apresentam coloração amarronzada. Embora existam milhares de espécies de bambu no entanto, em termos de distribuição dos elementos anatômicos, essas espécies são agrupadas em apenas cinco tipos de arranjos, o que denota a dificuldade em identificar a espécie de bambu apenas pela análise de uma parte do colmo.
Células parenquimáticas

Servem de local de depósito para o amido, sendo mais concentradas nas camadas internas (cerca de 70%), diminuindo gradativamente em direção às camadas externas (20%). Essa última (casca) é a região naturalmente mais resistente ao ataque de insetos, pois apresenta elevado teor de fibras e baixo teor de células parenquimáticas. Em amostras polidas apresentam coloração amarelada, formando um tipo de tela de formato hexagonal. São responsáveis pela capacidade que o bambu apresenta de acomodar-se perante solicitações externas, tais como a pressão causada por ventos.
Vasos
São responsáveis pelo transporte de nutrientes. Contrariamente ao que ocorre com as madeiras (processo de formação do cerne, com posterior obstrução dos vasos por óleos-resinas), os vasos do bambu restam funcionais durante toda vida da planta. Apresentam maior dimensão quando estão localizados nas camadas internas da parede dos colmos, favorecendo a deposição de elementos químicos presentes nas soluções preservativas. No entanto, em termos de ocupação de área, a porcentagem ocupada pelos vasos do bambu é da ordem de 10%, ou seja, nas camadas externas aumenta significativamente a quantidade de vasos, porém o seu diâmetro é muito pequeno. Na observação de uma seção transversal do bambu, pode-se observar que os vasos ocorrem em grupos de quatro elementos, tendendo a serem obstruídos com o aumento da idade do colmo.
Características físicas
Um dos maiores entraves que impedem um melhor conhecimento das características do bambu refere-se à ausência de normas técnicas para a realização dos ensaios para a sua caracterização, e, posteriormente, para efetuar-se a interpretação dos resultados obtidos. Desse modo, torna-se muito difícil comparar os resultados obtidos para as diferentes espécies estudadas pelos pesquisadores, devido à falta de padronização. No momento, encontra-se em elaboração pela Rede Brasileira do Bambu, sob o comando do Dr. Normando Perazzo Barbosa (UFPB), com apoio da UFMG e da PUCC-RJ, uma norma brasileira sobre a utilização estrutural do bambu em construções.
Umidade
O teor de umidade do bambu no momento do corte pode ser muito elevado, dependendo da época do ano, da espécie e da posição da amostra no colmo (base, meio ou ponta). Devido à maior espessura da parede e maior presença de células parenquimáticas altamente higroscópicas, a região da base apresenta teor de umidade mais elevado do que as demais regiões. De uma forma geral, o bambu demora mais a secar do que madeiras com a mesma densidade, pois a perda de umidade na direção transversal às fibras é muito limitada, devido à impermeabilidade natural produzida pela casca do bambu.
Massa específica aparente
A massa específica aparente do bambu situa-se entre 500 a 800 kg/m3. Essa característica depende do teor de umidade, da espécie, da idade do colmo e da posição da amostra (base, meio e ponta). Tal valor , similar ao de madeiras de média densidade, qualifica o bambu para fins de obtenção de carvão.
Variações dimensionais
Na direção longitudinal-axial é praticamente desprezível (inferior a 1%), comportando-se como se fosse a madeira. No entanto, contrariamente às madeiras, a deformação na direção tangencial (paralela à casca) nem sempre é inferior à deformação na direção radial (centro para a casca). Essa característica também é dependente da espécie, da idade do colmo e da posição da amostra no colmo (base, meio e ponta).
Características mecânicas
A despeito de sua reduzida massa específica aparente, o bambu é considerado um material de boa resistência mecânica, similar às madeiras de lei (duras). A maior dificuldade no estudo das propriedades mecânicas do bambu reside no fato de ter que adequá-lo aos procedimentos usuais para o ensaio aplicado às madeiras. Além disso, a quantidade e a localização dos nós modificam sensivelmente os resultados obtidos, por exemplo em um ensaio de flexão estática.
Compressão paralela às fibras
Peças curtas de bambu podem suportar tensões superiores a 50 MPa, enquanto que o concreto usual apresenta 30% desse valor. Além disso, enquanto que o concreto apresenta densidade superior a 2, o bambu apresenta 30% desse valor. Desse modo, se for considerada a resistência em relação à densidade (resistência específica) o bambu mostra-se muito mais eficiente do que o concreto.
Tração paralela às fibras
De uma forma um tanto exagerada atribui-se ao bambu o título de “aço vegetal”. No entanto, seu módulo de elasticidade é de cerca de 10% do aço convencional utilizado em construções situando-se em torno de 20 GPa. Cumpre destacar que cabos de bambus trançados oferecem resistência similar ao aço CA-25 (2500 kgf/cm2), pesando apenas 10% do metal. Tais cabos foram utilizados em antigas pontes pênseis chinesas, tendo servido de inspiração para as modernas pontes, tais como a Golden Gate, em San Francisco, USA.
Flexão estática
O bambu apresenta rigidez suficiente para que possa vir a ser utilizado em estruturas secundárias, na forma de treliças e vigas. Na Colômbia, Equador, Costa Rica e no Brasil foram desenvolvidos importantes projetos estruturais com o Guadua angustifolia. No entanto, obter ligação eficiente entre os colmos é de crucial importância para a eficiência da estrutura, lançando-se mão da utilização de peças metálicas, plásticas, de madeira ou do preenchimento dos colmos com concreto ou argamassa.
Características químicas
A principal característica química do bambu é a presença do amido nas células parenquimáticas. Como elas são mais numerosas nas camadas internas do colmo, o ataque do caruncho sempre se inicia nessa região e também no diafragma. O teor de celulose no bambu é da mesma ordem de grandeza daquele observado para a madeira de eucalipto (em torno de 55%). Experimentos indicaram que a produtividade de ambos é similar, o que encoraja o plantio do bambu para tal utilização, principalmente considerando que se trata de uma planta perene. Estudos indicam que após um determinado tempo, os custos de instalação do plantio de bambu podem rivalizar com o da madeira de eucalipto.
Ensaios não destrutivos
A exemplo do aço e de materiais cimentícios (concreto e argamassa), as características e o comportamento do bambu também podem ser avaliadas por meio da utilização de ensaios não destrutivos (END). Dentre tais tipos de ensaios, destacam-se:
Moiré de sombra

Trata-se de uma aplicação da fotoelasticidade. Uma tela, dispondo de uma malha com uma trama com espaçamento bem definido, é colocada defronte ao colmo de bambu, que será submetido ao ensaio de compressão, por exemplo. O corpo de prova deve ter sido previamente pintado de uma cor clara para melhorar o contraste da imagem. Uma fonte de luz e uma câmera fotográfica são instaladas em pontos previamente definidos. A seguir, faz-se a primeira foto (referência) e, a cada acréscimo constante de carga (500 N, por exemplo), novas fotos são tomadas. Posteriormente, essas imagens são tratadas em um software específico, destinado originalmente para análise de imagens satelitais (IDRISI), e a subtração dos pixels permite obter-se as curvas de isodeformação, indicando pontos onde ocorra concentração de tensões.
Velocidade de propagação do pulso ultrassônico
A velocidade de propagação do pulso ultrassônico (VPU) depende das características físicas do meio, principalmente da densidade e do módulo de elasticidade do material. A VPU é mais elevada quando o teor de umidade do bambu é mais reduzido; acima do ponto de saturação das fibras ao ar (PSA), situado em torno de 20% para o bambu, a VPU se mantém praticamente constante.
O tempo de propagação da onda ultrassônica (com o qual se calcula a VPU) é dependente da densidade da região da parede do colmo, sendo menor (maior valor da VPU) quando a medição é efetuada próxima às camadas externas (maior concentração de fibras – maior densidade).
A VPU e, consequentemente, o módulo de elasticidade, pode ser obtida de duas formas:
Frequência de ressonância
Para esse tipo de ensaio, o corpo de prova deve apresentar dimensões tais que possa vir a ser considerado como tendo um comprimento ”infinito” em relação à seção transversal. Desse modo, no caso do bambu, presta-se principalmente para a avaliação de taliscas (ripas).
O corpo de prova é posicionado sobre dois apoios maciços, distanciados de 0,552 vezes o comprimento do corpo de prova (L). Aplica-se um impacto na extremidade do corpo de prova e, tendo um microfone colocado na extremidade oposta, tem-se a frequência de ressonância (f). A velocidade de propagação do pulso ultrassônico (VPU) é dada pela expressão: VPU = 2*f*L. Tendo-se a densidade aparente do material (d), obtém-se o módulo de elasticidade (Ed), dado por: Ed = d*(VPU^2)
Fakopp
Ultrassom
Tratam-se de equipamentos mais versáteis, portáteis e disponíveis em vários laboratórios, sendo fabricados por diversas empresas: Panametrix, Steinkamp, Pundit, Sylvatest, Tigo e USLab, dentre outras. Tais equipamentos permitem também a realização de ensaios de campo, possibilitando, dentre outras aplicações, efetuar-se o acompanhamento, ao longo do tempo, da degradação de um material, ou de avaliar-se uma árvore em pé.
Comparado com o método anterior, o ultrassom apresenta como principal vantagem a versatilidade quanto à possibilidade de utilização em materiais de variadas geometrias. No entanto, recomenda-se que o comprimento do corpo de prova seja de cerca de 2-4 vezes daquele do comprimento da onda. Por exemplo, no caso do bambu, a VPU na direção paralela às a fibras é da ordem de 5.000 m/s. Se for utilizado um equipamento com frequência de ressonância de 45 kHz, o comprimento de onda, nesse caso, é de cerca de 11 cm (5000 : 45000) – logo a talisca deverá ter, ao menos, 22 cm.
Devido à pequena espessura da parede do colmo do bambu, os sensores eletroacústicos de face plana, com diâmetro de 2 a 3 cm , não são recomendáveis pois não podem ser posicionados totalmente em contato com a amostra, previamente preparada com gel cirúrgico. Nesse caso, os sensores de seção exponencial (de pontas) são indicados, devendo-se, no entanto, manter seu posicionamento de preferência no centro da parede da amostra, pois a VPU, como depende da densidade aparente (que é variável ao longo da parede do colmo), poderá variar significativamente se o ponto de medição não for mantido constante.
Embora teoricamente esse método pudesse vir a ser aplicado na avaliação da degradação de taliscas expostas às intempéries, na prática observou-se que, como a degradação ocorre basicamente nas células parenquimáticas, a onda se propaga ao longo dos feixes de fibras, os quais ainda se encontram intactos, na maioria dos casos. Nesse caso, o ideal seria utilizar um sensor de maior frequência de ressonância (1 GHz) e medir o tempo de propagação na direção “radial” – da casca para o centro.
Prós & Contras
Prós
Pró: Perenidade

Embora os colmos tenham uma vida útil variando entre 4 e 15 anos, a touceira (moita) é perene, ou seja, uma vez implantada, irá emitir brotações anuais. No Instituto Agronômico de Campinas (Fazenda Santa Elisa) ainda existem as fileiras de bambu comum (Bambusa tuldoides) plantadas há mais de um século. Segundo a tradição, o Barão Geraldo desejava construir um caminho sombreado para efetuar seus passeios familiares até a cidade de Campinas – SP.
Pró: Rusticidade
O bambu é tolerante a solos com baixa fertilidade, propagando-se em regiões inóspitas onde outros vegetais jamais conseguiriam sobreviver. Além disso, quando se efetuam os tratos culturais adequados a produtividade do bambu aumenta significativamente, embora tal prática ainda não venha sendo utilizada no Brasil.
Pró: Resistência ao fogo
O “segredo” da força do bambu está em sua parte subterrânea, constituída por raízes e rizomas. Dessa forma, mesmo a ação violenta de um incêndio pouco ou quase nada causam à touceira. Em agosto de 2014 ocorreu um grande incêndio em propriedades rurais em Boa Esperança do Sul – SP. Passados apenas 6 meses, brotos de D. asper já alcançavam mais de 6 m de altura!
Pró: Precocidade
Dependendo da espécie de bambu os colmos podem ser cortados após 2 a 4 anos, constituindo-se na matéria-prima natural mais rapidamente produzida. Conforme a aplicação desejada, por exemplo para uso em cestarias, esse intervalo de tempo pode ainda ser reduzido para menos de 2 anos. No entanto, para aplicações estruturais devem ser escolhidos colmos que estejam maduros, com idade superior a 5 anos para a maioria das espécies.
Pró: Diversidade
O bambu apresenta-se sob as mais variadas formas. Algumas espécies são denominadas anãs, com pequeno diâmetro e porte inferior a 1 m; outras, no entanto, são gigantes – diâmetro superior a 20 cm e altura de até 30 m. O mais interessante é que todo esse grande desenvolvimento se processa em um intervalo de tempo muito rápido – de até 6 meses. Quando aparecerem as folhas, cessa o crescimento do colmo e inicia-se o processo de sua maturação.
Pró: Leveza
O bambu apresenta uma das estruturas mais perfeitas da natureza, pois combina flexibilidade com leveza. Os colmos, geralmente ocos, são divididos transversalmente por septos (diafragmas), que aumentam a resistência mecânica do bambu. Essa engenhosa obra da natureza confere ao bambu cerca de 1/3 da densidade do concreto, por exemplo.
Pró: Aproveitamento total e versatilidade
Praticamente nada se perde do bambu. Além dos colmos, que possibilitam múltiplas aplicações, as folhas e os ramos também podem ser utilizados na fabricação de vassouras ou na alimentação de animais (não são apenas o urso Panda ou gorilas em Uganda que se alimentam do bambu). Também os resíduos do processamento industrial do bambu podem ser aproveitados para a fabricação de compósitos com aglomerantes orgânicos ou inorgânicos, ou para a geração de energia. Experimentos recentes na Faculdade de Engenharia de Alimentos da UNICAMP estão direcionados para o aproveitamento da farinha de bambu.
Milhares de usos já foram catalogados para o bambu. Na Ásia diz-se que o bambu acompanha o homem “do berço ao túmulo”, tamanha é a sua importância para os povos asiáticos. Para eles o bambu é considerado como sendo uma dádiva dos deuses. Esse é o título de um importante livro, escrito por Oscar Hidalgo-López – pioneiro no estudo sistemático do bambu na América: “Bamboo the Gift of the Gods“.
Pró: Proteção do solo e sequestrador de carbono
O bambu troca frequentemente suas folhas, que ao caírem ao solo o protegem contra o impacto das gotas da chuva, formando, além disso, uma espessa camada que favorece a infiltração de água e minimiza a sua perda por evaporação. Além disso, o bambuzal tem um importante papel na proteção de nascentes, lagos e rios. No entanto, em rios do Pantanal, observa-se uma séria degradação das suas margens,devido às ondas causadas pela passagem frequente de barcos de pesca, mesmo existindo nessa região a ocorrência natural de bambu do gênero Guadua (Taquaruçu), que realiza um tipo de travamento das margens do rio.
Pode-se considerar que 50% da massa do bambu seja constituído por carbono, armazenado nos rizomas, no colmo, ramos e folhas. Como o bambu brota anualmente, necessita de grande quantidade de carbono para que ocorra o desenvolvimento de seus tecidos. No entanto, conforme destacado pelo Dr Walter Liese (Hamburg University), esse sequestro de carbono somente será efetivo “se o bambu for utilizado na produção de materiais perenes”. Dentre eles, podem ser citados: papéis não descartáveis, móveis, artesanatos, chapas, laminados colados e vários compósitos nos quais as partículas de bambu sejam imobilizadas no seio da matriz (cimento, gesso e adesivos em geral). Quando materiais à base de bambu se degradam, libera-se o carbono que fora anteriormente sequestrado pelo bambu. Nesses casos, o bambu pode ser considerado como se fosse neutro, pois liberaria o carbono que ele mesmo havia sequestrado ao longo de sua vida.
Abrigo da vida animal
Embora o bambu raramente produza flores e frutos, mesmo assim ele serve de importante atração para a vida animal, que busca no bambuzal o abrigo contra os predadores, além de os animais aproveitarem-se de um local permanentemente sombreado.
Desvantagens
Falta de normatização
Ao contrário do que existe para outros materiais de construção o bambu ainda não apresentava especificação técnica para uso na construção. Desse modo, os resultados apresentados pelos diferentes autores nem sempre podiam ser comparáveis entre si, o que dificultava a tarefa dos projetistas e dos construtores. Porém, recentemente o INBAR – International Network of Bamboo and Rattan publicou normas ISO para ensaios de caraterização do bambu. Além disso, atualmente se elabora no Brasil uma norma específica para o uso estrutural do bambu, conforme informado em recente evento realizado em Goiânia. A iniciativa capitaneada pelo Prof. Normando Perazzo Barbosa, da UFPB, busca sensibilizar a ABNT para que aprove normas específicas para a realização de ensaios de caracterização do bambu e para a sua utilização estrutural.
Agressividade

A escolha do local para o plantio de bambus do tipo alastrante devem ser muito cuidadosa, pois se tratam de bambus de crescimento individualizado. O grupo se estende em várias direções e efetuar o controle de sua expansão não é uma tarefa tão simples para não dizer quase impossível. Não basta cortar totalmente a parte aérea, pois, em realidade, a força do grupo se encontra na parte subterrânea – a extensa rede constituída pelas raízes e rizomas. Como o sistema radicular do bambu é muito raso (raramente ultrapassa mais de 1 m), podem ser cavadas trincheiras visando isolar o grupo para que não invada outras áreas. Na Europa e EUA também se utiliza um tipo de tela plástica buscando o mesmo efeito. Porém, caso haja uma mínima fissura, isso já seria suficiente para o rizoma se espalhar de forma descontrolada. Em algumas cidades americanas tem sido proibidos plantios de tais tipos de bambus.
Heterogeneidade

Por ser um material natural o bambu apresenta grande variabilidade nos resultados dos ensaios de caracterização físico-mecânica. Numa mesma touceira ocorrem colmos com idades muito variadas e, em decorrência, que apresentam comportamento muito diferente durante um ensaio. Além de fatores intrínsecos ao bambu (espécie, idade, posição da amostra no colmo) também outros fatores ligados ao clima, solo e época do ano também interferem de forma importante no comportamento físico-mecânico do bambu.
Vulnerabilidade

A maior parte das espécies de bambu apresenta baixa resistência natural ao ataque do caruncho (Dinoderus minutus). A presença de amido nas células parenquimáticas do colmo é que provoca o ataque desse inseto, especializado na sua degradação. Também tem sido relatado o ataque de um outro tipo de inseto (um cerambicídeo denominado de tigre asiático), cujos efeitos são ainda mais devastadores desintegrando totalmente a estrutura do colmo. Além disso, o tratamento eficiente dos colmos ainda não alcançou o mesmo nível industrial daquele observado para a madeira.
Instabilidade dimensional
O bambu é um material higroscópico e, em presença de variações de umidade, incha, contrai, fendilha e racha. Esse fato, além de causar instabilidade nas construções, abre caminho para o ataque do caruncho e de fungos, que não atacam diretamente a casca do bambu. Por não dispor de raios, o bambu racha com maior facilidade do que a madeira. Porém, para produzir palitos, essa se mostra uma grande vantagem.
Ligações ineficientes
Um dos maiores desafios no estudo do bambu refere-se à obtenção de ligações que sejam eficientes e práticas. Por não apresentar raios, o bambu fendilha facilmente, provocando a instabilidade da estrutura. Dessa forma, tem sido buscadas alternativas para tornar mais efetiva a ligação de peças em bambu, por meio da utilização de concreto e conectores de aço, de plásticos ou combinando-se com materiais poliméricos. Mais recentemente algumas aplicações e estudos tem evidenciado o potencial de utilizar-se nas conexões uma resina de poliuretano à base de óleo de mamona, eventualmente também reforçadas com fibras naturais ou sintéticas.
Risco de incêndio
A exemplo do que ocorre para a madeira, construções de bambu apresentam elevado risco durante incêndios. Esse fato ainda é reforçado pelo fato de, geralmente, utilizarem-se materiais vegetais na cobertura de quiosques e de outras construções em bambu. Por outro lado, também é muito grande o risco de propagar-se um incêndio na plantação de bambu, fato esse que é agravado pela imensa quantidade de folhas e ramos que se encontram depositados no solo. Por sinal, o nome “bambu” aparentemente se relaciona com o som produzido pela explosão dos colmos durante um incêndio…bam..boo!
Ausência de ferramentas apropriadas
Na preparação do bambu utilizam-se ferramentas e equipamentos desenvolvidos originalmente para a madeira, fazendo com que os resultados obtidos não sejam totalmente satisfatórios. Lâminas de grande diâmetro, com quantidade inadequada de dentes e rotação inadequada acabam dilacerando as células de bambu. Também o formato do colmo, geralmente cilíndrico pode favorecer o surgimento de acidentes devido à tendência de o colmo girar durante a operação. Além disso, devido à presença de sílica nas células periféricas do colmo, o desgaste das ferramentas é mais acentuado do que aquele observado nas madeiras, fazendo com que os profissionais não se mostrem entusiasmados em trabalharem com o bambu.
Escassez de mudas
Um dos grandes entraves à disseminação do uso do bambu em construções refere-se à ausência de fornecedores de mudas, quando se pensa na execução de projetos em escala industrial. Apenas para o setor do paisagismo e da decoração encontra-se certa disponibilidade de mudas (embora o preço seja, geralmente, muito elevado). Para plantios a serem efetuados em larga escala, a propagação in vitro será de vital importância.
Preconceito
Infelizmente ainda no Brasil não se descobriu o potencial do bambu para as mais diversas aplicações e nem foi despertado o interesse por plantações em larga escala. Prefere-se considerar o bambu como se fosse uma erva daninha e associá-lo então a obras temporárias ou que sejam ligadas à pobreza. Esse fato contrasta com o que ocorre em outros países da América Latina, nos quais o uso do bambu não encontra tantas restrições, sobretudo devido à escassez de madeira nativa. No entanto, iniciativas recentes da APROBAMBU tem buscado diminuir esse preconceito contra o plantio do bambu.
Plantio
Clima e solo para o plantio do bambu
De modo geral, o bambu não é uma planta exigente em termos de condições de solo. Entretanto, seu maior desenvolvimento tem sido observado em terrenos arenosos com elevado teor de matéria orgânica e com boa drenagem. Em solos de brejo com encharcamento permanente o bambu não se desenvolve adequadamente. O bambu tolera solos ácidos com baixa fertilidade, como se pode observar em plantações de Bambusa vulgaris nos estados de Bahia, Pernambuco e Maranhão. Em povoamentos naturais de bambu, certas espécies ocupam determinados tipos de solo. Por exemplo, na Índia, a espécie Bambusa arundinacea ocupa os solos mais úmidos, enquanto que, nos solos mais secos, se desenvolve o Dendrocalamus strictus. No Brasil, a maioria das espécies nativas sobrevive em associação com a floresta nativa. De modo geral, o bambu é uma espécie vegetal que é tolerante ao sombreamento, sendo possível seu desenvolvimento mesmo à sombra de outras espécies.
Teoricamente, o nível de precipitação pluviométrica em que os bambus se desenvolvem adequadamente, varia de 1200 a 4.000 mm/ano. Determinadas espécies de bambu, como Dendrocalamus strictus, toleram precipitações mínimas de até 762 mm, conforme observou Deogun (1936). Em decorrência de seu rápido desenvolvimento vegetativo, o bambu é um grande consumidor de água. Em contrapartida, é um grande armazenador de água, principalmente pela espessa camada de folhas que acumula sobre o solo, evitando, desse modo, a perda de água por evaporação devido à ação do sol e do vento, ou pela ação das enxurradas.
Quanto à temperatura, a maioria das espécies de bambu se desenvolve numa faixa entre 9 a 47 oC. Existem espécies, como as dos gêneros Arundinaria e Chusquea, que se desenvolvem em regiões onde neve e geadas são comuns. As espécies tropicais, que formam touceiras, são menos resistentes ao frio do que as espécies alastrantes, que não formam touceiras.
Tipos de rizoma
O bambu, diferentemente das espécies arbóreas, é uma planta rizomatosa, constituída por três estruturas básicas: uma aérea, representada pelos colmos, e duas subterrâneas, representadas pelas raízes e rizomas. O rizoma é o elemento básico da touceira, responsável pela propagação e interligação dos colmos. Assim como os colmos e ramos, os rizomas são estruturas axiais segmentadas, constituídas alternadamente por nós e internós. Os rizomas são caracterizados pela presença de raízes ou primórdios de raízes, bainhas e gemas laterais que dão origem a novos colmos ou rizomas.
Quanto à forma de desenvolvimento dos rizomas, no Brasil, as diferentes espécies de bambu podem ser divididas em dois grandes grupos: os de crescimento outonal que formam touceiras e os de crescimento primaveril que não formam touceiras. As espécies entouceirantes, também conhecidas como de crescimento determinado ou simpodial, são representadas pelos gêneros Bambusa, Dendrocalamus, Guadua e outros. As não entouceirantes ou alastrastantes, de crescimento indeterminado ou monopodial, são representadas pelos gêneros: Phyllostachys, Pleioblastus, Shibatae e outros.
Algumas poucas espécies, como Chusquea fendleri, podem ser classificadas como anfipodiais, pois, apresentam os dois tipos de rizomas: o monopodial e o simpodial. O crescimento dimensional dos rizomas e, consequentemente, dos colmos, se verifica por meio das sucessivas ramificações dos rizomas, ou seja, os rizomas menores vão, sucessivamente, dando origem a rizomas maiores até atingir-se a dimensão própria da espécie. As espécies alastrantes, que não formam touceiras, apresentam maior quantidade de rizomas por unidade de área do que as espécies entouceirantes. Segundo Ueda (1968), a quantidade de rizomas nas espécies alastrantes varia de 25 a 187 km/ha, podendo atingir 560 km/ha para as espécies do gênero Sasa.
Propagação do bambu
A propagação assexuada ou por via vegetativa, apesar de apresentar certas limitações, é a mais utilizada para a multiplicação do bambu. Vários são os métodos de propagação vegetativa, tanto para as espécies alastrantes como entouceirantes. Cabe ressaltar que cada espécie responde melhor a um determinado método. A principal vantagem da propagação vegetativa é a obtenção de plantas clonais com uniformidade genética fenotípica.
As mudas de bambu obtidas por via vegetativa devem apresentar três estruturas básicas: parte aérea, raízes e rizomas. A presença dos rizomas, normalmente é caracterizada por brotações vigorosas que emergem do solo. Basicamente, a propagação vegetativa do bambu pode ser obtida pelos seguintes métodos:
Transplante total

Neste caso, promove-se o desmembramento das touceiras, retirando-se propágulos completos, constituídos por colmos, rizomas e raízes. É um método indicado para espécies de baixo porte ou para touceiras em desenvolvimento com colmos pequenos. É um método bastante eficiente e indicado para pequenos plantios.
Transplante parcial
É semelhante ao método anterior, utilizando-se, neste caso, propágulos constituído por partes de colmos, raízes e rizomas. Para as espécies alastrantes, normalmente, utilizam-se partes de colmos providos com um ou dois ramos com folhas. No caso das espécies entouceirantes, utilizam-se as partes basais dos colmos providas com uma a três gemas primárias. É um método menos eficiente do que o anterior, sendo, também, indicado para pequenos plantios.
Por pedaços de rizoma
Neste método, os propágulos são constituídos por pedaços de rizomas com raízes. É um método mais indicado para as espécies alastrantes, em decorrência das características mais favoráveis dessas espécies, que apresentam rizomas longos e em maior quantidade. É um método relativamente pouco estudado e utilizado.
Por pedaços de colmo
Os propágulos são constituídos por segmentos de colmos, contendo uma ou mais gemas primárias brotadas (presença de ramos) ou não brotadas (gemas solitárias). Este método é específico para as espécies entouceirantes. O potencial de enraizamento dos propágulos depende da espécie e de outros fatores relacionados com a planta e às condições de enraizamento. Para as espécies com espessas paredes nos colmos (B. vulgaris, B. vulgaris var. vittata, D. asper, etc.), os níveis de enraizamento dos propágulos variam de 20 a quase 100%. Nas espécies com colmos de paredes finas, especificamente para a espécie B. tuldoides, o nível de enraizamento dos propágulos tem sido praticamente nulo.
Por semente
A propagação por sementes é pouco utilizada em decorrência da dificuldade de serem obtidas sementes em épocas regulares. Para a maioria das espécies de bambu os intervalos de florescimentos são longos, variando de 30 a até mais de 100 anos. O florescimento em bambu pode ser esporádico ou gregário . O esporádico ocorre, eventualmente, em algumas touceiras de uma espécie ou em alguns colmos de uma mesma touceira. A produção de sementes neste caso é relativamente pequena. No florescimento gregário, todas as touceiras da espécie com a mesma origem genética, florescem, e, normalmente, em seguida morrem, pois, gastam toda substância de reserva (amido) na produção de sementes.
Em alguns países da Ásia, devido à disponibilidade de sementes provenientes do florescimento anual de algumas espécies, existe a possibilidade de propagá-las por sementes. Com o florescimento anual dessas espécies, surge a possibilidade de criar híbridos de bambu, com melhores características agronômicas e tecnológicas. Outra vantagem da propagação por sementes é a possibilidade de promover o plantio em larga escala, em condições mais econômicas. No entanto, deve-se atentar para variabilidade genética assim obtida, ou seja, ocorrerão plantas com características totalmente diferentes.
In vitro
Com a aprovação da Lei Federal de incentivo ao plantio do bambu no Brasil, espera-se que ocorra um grande interesse empresarial para a captação de recursos financeiros visando o plantio do bambu em larga escala. Para suprir tal demanda, o desenvolvimento da propagação do bambu in vitro se torna imperativo. Dentre os centros de pesquisa que já vem se dedicando a tal tema, destaca-se o Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA), situado em Piracicaba – SP. Trabalhos recentes desenvolvidos sob orientação da Dra Siu Mui Tsai tem evidenciado avanços significativos na propagação in vitro de algumas espécies exóticas de bambu. Também, como resultado do segundo edital do CNPq, outros laboratórios se dedicaram à propagação in vitro.
CENA

